sábado, 17 de setembro de 2011

A Visão Puritana da Santidade (por Dr. Joel R. Beeke)

Imagem cedida por: http://imwjdfiladelfia.com/home/sobre-nos.html


Os Puritanos escreveram muito sobre como viver uma vida santificada. Pouco do que eles pregaram e escreveram contém qualquer coisa única ou nova, comparada com sua herança doutrinária. O que é especial sobre a visão Puritana da santidade é sua plenitude e equilíbrio, em vez da sua forma distinta.
A definição Puritana clássica de santificação é bem conhecida; nós a encontramos no Breve Catecismo de Westminster, perguntas 35 e 36:
"O que é santificação?" Santificação é a obra da livre graça de Deus, pela qual somos renovados em todo o nosso ser, segundo a imagem de Deus, habilitados a morrer cada vez mais para o pecado e a viver para a retidão.
Quais são as bênçãos que nesta vida acompanham a justificação, a adoção e a santificação, ou delas procedem? As bênçãos que nesta vida acompanham a justificação, a adoção e a santificação, ou delas procedem, são: 
·         Certeza do amor de Deus;
·         Paz de consciência;
·         Alegria no Espírito Santo 
·         Aumento de graça;
·         Perseverança até o fim".
Destas duas perguntas é óbvio que santificação na mente Puritana envolve todo o viver Cristão - todo o processo de ser conformado à imagem de Jesus Cristo. É um processo que começa no momento do novo nascimento, e continua durante toda a vida do crente até o seu último suspiro. Os Puritanos queriam ver as pessoas crescendo vigorosamente na certeza do amor de Deus, em uma grande paz de consciência e numa autêntica alegria no Espírito Santo. Eles diziam que o caminho para receber estas bênçãos é através da obra santificadora do Espírito. Eles avisavam seu povo: Se você não buscar a santificação, você não somente desonrará a Deus, mas também empobrecerá sua própria vida espiritual. 
O que realmente eles queriam dizer por santificação? Aqui estão quatro elementos da visão Puritana.
Renovação universal e moral

Primeiro, santificação para os Puritanos é uma obra divina de renovação, envolvendo uma radical mudança de caráter. Ela brota de um coração regenerado, que é algo mais profundo do que qualquer psicanalista ou conselheiro poderia alcançar. Deus opera no coração, e como resultado da mudança de coração, vem um novo caráter. 
A obra de renovação é (usando a linguagem Puritana) universal. Isto significa que ela toca e afeta cada área da vida inteira da pessoa. Paulo nos diz em 1 Timóteo 4:4-5 que tudo é para ser santificado - cada esfera da vida. 
Santidade é uma coisa interna que deve encher nosso coração, o centro de nosso ser, e ela é uma coisa externa que deve transbordar sobre cada detalhe de nossas vidas. 1 Tessalonicenses 5:23 diz, "E o mesmo Deus de paz vos santifique em tudo; e todo o vosso espírito, e alma, e corpo, sejam plenamente conservados irrepreensíveis para a vinda de nosso Senhor Jesus Cristo". Muitos puritanos pregaram sobre este texto. Santificação é para ser universal.
Mas santificação é também moral, diziam os Puritanos. Por isto eles queriam dizer que ela produz frutos morais. Sobre os mesmos frutos nós lemos em Gálatas 5 - amor, gozo, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fé, mansidão, e temperança. Se você perguntasse a um Puritano - o que realmente estes frutos significam quando se combina todos juntos? - ele diria que eles representam o perfil moral do próprio Senhor Jesus Cristo.
Isto é o que o Espírito está fazendo na santificação. Ele está moldando o crente ao perfil de Cristo. Ele está reproduzindo as qualidades de Cristo nas vidas de Seu próprio povo. O povo de Deus é aquele no qual a "natureza de Cristo" (a soma total de tudo que Sua vida humana era) encontra nova, embora imperfeita, expressão. Este é o conceito Puritano de santificação.
Verdadeiro arrependimento
         Segundo, santificação para os Puritanos consistia de arrependimento e retidão - a bilateral atividade de se voltar do pecado para a obediência. Arrependimento, diziam os Puritanos, é voltar-se do pecado, e isto é uma atividade para toda a vida. Nós devemos nos arrepender todos os dias de nossas vidas, e à medida que assim fazemos, devemos também voltar para a retidão.
Arrependimento, eles diziam, é uma obra de fé. Sem o Espírito Santo não há arrependimento. O conceito Puritano de arrependimento vai muito mais profundo do que mero remorso, ou do dizer, "Eu sinto muito". A idéia Puritana de arrepedimento certamente começa com remorso, mas ela vai mais profundo para uma mudança essencial de vida. Arrependimento é um voltar real. É um odiar as coisas que se amava antes, e um amar as coisas que se odiava antes.
Arrependimento envolve mortificação e vivificação, diziam os Puritanos. Por mortificação eles queriam dizer "colocar a espada sobre o pecado"; matar o pecado; colocar o pecado à morte, como o apóstolo diz em Romanos 6. Por vivificação eles queriam dizer tornar-se vivo para justiça, e dar a nós mesmos mais e mais para praticar e exibir o fruto do Espírito.
Uma guerra santa
Terceiro, a santificação Puritana é progressiva, operando através de conflitos. Os Puritanos diziam que o conflito é inescapável na santificação, porque resíduos de pecados habitam no Cristão, para sua grande tristeza. Isto o engaja em uma grande guerra e muitas batalhas. Os pecados internos operam de dentro, diziam os Puritanos, enquanto o mundo exerce a pressão ímpia exteriormente. O diabo, que exerce a função de líder, deseja pegar aquelas pressões externas e usá-las junto com as pressões internas para recuperar o território perdido. Assim, embora uma pessoa conquistada pelo Espírito Santo busque expandir e ganhar o território da santificação universalmente em sua vida, o diabo junto com o mundo e a velha natureza da pessoa, forma uma linha de frente de batalha na alma. Uma guerra santa está sendo travada.

Por isso Bunyan chamou o seu livro de "A Guerra Santa". Santificação envolve conflito comigo mesmo, com minha carne, com o mundo, e com Satanás. Se um Cristão não está batalhando contra o pecado, os Puritanos diziam que essa pessoa deveria se questionar se ela realmente é ou não Cristã.

Um Puritano pintou este retrato. Ele disse que ser um Cristão é andar num caminho estreito e reto. De ambos os lados deste caminho há cercas. Atrás daquelas cercas Satanás tem todos os poderes do mal ao seu dispor. Ele usa seu exército de demônios, e até nossas inconsistências internas, e nossa tendência de cair em precipitação. Ele usa todas aquelas coisas como dardos, e a cada passo que damos na peregrinação espiritual ele atira através e por cima da cerca, mirando nosso pé, nosso coração, nossas mãos, e nossos olhos. Cada passo do caminho é uma batalha.
Aceitando um esforço
Thomas Watson disse que o caminho para o céu é uma "obra suada". Há uma batalha sendo travada, mas a obra da santificação, felizmente, avançará. A santificação não está estagnada. Os Puritanos empregavam as palavras de Paulo em 2 Coríntios 3:18, que afirmam sermos transformados de glória em glória se andamos no Espírito. Assim, o verdadeiro Cristão é um que aceita que haverá conflitos, mas que ao mesmo tempo descansa na verdade que a vitória final é sua. Ele pode perder muitas lutas, mas a guerra será ganha, porque ele está em Cristo. O Espírito Santo o guiará, e ele avançará progressivamente.
Contudo, há um empecilho oculto, diziam os Puritanos, porque o Cristão freqüentemente não é capaz de ver qualquer progresso em si mesmo. Um Puritano disse que uma mulher que espana seu mobiliário pode pensar que ela limpou todo o pó, até que a luz do sol brilhe em seu quarto revelando todo o pó remanescente. Quanto mais o Sol da justiça brilha em nossos corações, embora possamos estar crescendo em santidade (e outros possam ver isto), veremos de modo crescente os motivos de nosso coração.
A questão importante não é - "Posso me ver crescendo mais e mais santo?” mas - "Quando eu olho para trás em minha vida, três ou cinco anos atrás, Cristo significa mais para mim hoje do que então? Eu penso menos de mim mesmo hoje do que então? Cristo está crescendo e eu diminuindo? Estou crescendo na apreciação de Cristo, e em minha auto-depreciação?" Estaé a visão Puritana de auto-exame com respeito à santidade.
Outro modo Puritano de avaliar o progresso na santidade é perguntar como estamos atualmente lutando contra a tentação. Se não estamos lutando contra as forças que pressionam nossa carne, estamos regredindo. Em ordem, portanto, para fazer progresso o crente deve orar ao trono da graça: "Ajude-me ser forte hoje, Senhor. Ajude-me a ser puro hoje. Ajude-me a ser justo hoje". Este é o constante desejo do Cristão que está fazendo progresso na santificação.
O ser interno, privado.

Em quarto lugar, a santificação Puritana é imperfeita, apesar de invencível. Nesta vida ela nunca é completa. Nosso objetivo sempre excederá nosso alcance. Muitas pessoas não entendem os Puritanos neste ponto. Eles pensam que eles eram introspectivos, ou que eles nos levavam a uma escravidão legalista, e até mesmo à uma depressão espiritual. Isto não é verdade.
Os Puritanos certamente tinham um conceito profundo de pecado e de justiça, embora muitos dos seus modernos detratores tenham um terrivelmente pequeno conceito de pecado e justiça. Os Puritanos sentiam a imperfeição da santificação deles, precisamente porque eles tinham o padrão da justiça de Deus diante deles. Eles não se comparavam com o seu próximo, mas com a santa Lei de Deus. Justiça para o Puritano era motivacional no caráter. O que existe dentro de você é importante. O que você diz reflete quem você é por dentro.
Um Puritano disse que um homem é em sua privacidade, o que ele realmente é às vistas de Deus. Eles quereriam nos perguntar: “O que você pensa a respeito? O que motiva você? Você está realmente motivado pelo amor a Deus? Você está motivado pela solidariedade do Samaritano para com os outros, amando-os, fazendo-lhes o bem e se colocando para o benefício e bem-estar espiritual deles?”
Este é o coração de uma justiça Puritana. Com este alto conceito de santidade, eles naturalmente sentiam suas imperfeições. Talvez isto em nenhum lugar seja mais vividamente expresso do que nas perguntas e respostas do Catecismo Maior de Westminster sobre os dez mandamentos. Leia-os se você quiser e note quão precisos eles são, como eles sondam o coração e como eles insistem que você deve amar a Deus e ao seu próximo como a si mesmo.
Quando, portanto, você ler sobre como os Puritanos olhavam com pesar para eles mesmos, e quando você ver em seus diários como eles sofriam com a sua própria indignidade, lembre-se que eles estão se comparando com o perfeito Deus e com Sua santa lei. Eles eram homens e mulheres que verdadeiramente sentiam o gemido de Paulo: "Porque, segundo o homem interior, tenho prazer na lei de Deus....Miserável homem que sou! quem me livrará do corpo desta morte?" Eles sentiam sua necessidade de fugir para Cristo todos os dias para serem lavados novamente. E que está é a origem de toda genuína santidade. Tal santidade é invencível. Ela nunca morrerá, mas um dia será perfeita em e com Cristo para sempre.
Este artigo foi adaptado de uma pregação do Dr. Beeke na Escola de Teologia do Metropolitan Tabernacle em 1998, e impresso pela Sword & Trowel.
Tradução livre: Felipe Sabino de Araújo Neto
Cuiabá-MT, 22 de Setembro de 2003.

quarta-feira, 14 de setembro de 2011

A HISTÓRIA DOS QUAKERS: Guiados pela luz interior da vida



George Fox. imagem cedida por: http://pt.wikibooks.org/wiki/Experi%C3%AAncia_religiosa/Quaker


Em certos períodos da história, quando a igreja se inclinou perigosamente para um extremo da verdade –ao ponto de quase desviar-se completamente– Deus respondeu revelando e enfatizando o extremo oposto, a fim de restaurar aos seus, e trazê-los de volta ao seu padrão celestial. Esta resposta tem como propósito produzir um efeito oposto poderoso, capaz de trazer o necessário equilíbrio espiritual. Este princípio pode ser apreciado claramente na vida e história de George Fox e os Quaker.
 O contexto histórico
No início do século XVII, a Inglaterra se achava destroçada por intensas lutas políticas e religiosas. Como já vimos nos artigos passados, a igreja oficial e os dissidentes não conformistas disputavam pelo tipo de igreja que devia consolidar-se no solo inglês. Ambos eram protestantes, mas com enfoques radicalmente opostos, não quanto às suas doutrinas essenciais, mas quanto à forma exterior da igreja. Os anglicanos se agarravam à igreja legada pela tradição histórica, enquanto que os dissidentes queriam uma igreja mais ajustada ao modelo do Novo Testamento, até onde eles o entendiam. Tratava-se, portanto, de uma luta por coisas importantes, embora exteriores.
Muito pouco interessava, nesses dias, a experiência real e interior. A vida cristã tinha chegado a ser não muito mais que uma profissão formal de certos credos protestantes considerados ortodoxos. Tudo tinha sido reduzido à confissão exterior de um conjunto de doutrinas corretas, sem importar o seu verdadeiro impacto na vida de quem as professava. As pessoas se consideravam «justificadas» por sua adesão a um credo ortodoxo formal, e não por uma fé viva em Cristo morto e ressuscitado. Além disso, um calvinismo rígido, cansativo e intelectualizado enchia os corações de pessimismo, enfatizando grandemente a condição corrupta da natureza humana e sua incapacidade de viver uma vida livre do poder do pecado. Deste modo, justificavam-se em toda classe de vícios, e um relaxamento moral generalizada entre os assim chamados cristãos. Na verdade, o que ocorria é que muito poucos conheciam a Cristo por experiência.
Este lamentável estado de coisas se refletia em ministros e clérigos incapazes de guiar os homens que pastoreavam para um conhecimento vivo de Cristo, pois nem mesmo eles o conheciam de verdade. Enquanto isso entretinham-se em longos e acalorados debates teológicos, carentes de significação espiritual. A sua ortodoxia era correta, mas tão fria, morta e impotente como um cemitério. Entretanto, nesses dias de escasso conhecimento espiritual, Deus ia usar um homem chamado de fora de todo esse mundo religioso para começar a reverter esta situação. Seu nome era George Fox.
 Um homem enviado por Deus
Em sua autobiografia, Fox diz que nasceu em Leicestershire, em Julho de 1624. Seu pai, um tecedor de ofício, e sua mãe, que tinha mártires entre os seus antepassados, eram considerados como pessoas retas e cristãs. Desde menino, George mostrou uma seriedade pouco comum. Quando tinha 19 anos foi convidado para uma festa com outros parentes ‘cristãos’, onde viu como alguns bebiam em excesso. Aborrecido ao perceber tanta diferença entre palavras e atos, abandonou o lugar, e a partir dali se entregou a uma longa busca espiritual. Viajou por diversos lugares da Inglaterra e conversou com ministros de todas as tendências de sua época, procurando respostas para as suas profundas inquietações espirituais. Nesse tempo se sentia envolvido por densas e terríveis trevas, mas ninguém conseguiu lhe ajudar. Isto o conduziu a um estado de desespero quase total. Tudo ao seu redor parecia morto e impotente. Os cristãos de seus dias careciam de verdadeira realidade espiritual.
Um dia, enquanto caminhava em direção à cidade de Coventry, sentiu que Deus falava ao seu coração de maneira direta, abrindo o seu entendimento. Então compreendeu subitamente que todos, sejam católicos ou protestantes, se tiverem passado da morte para a vida, são verdadeiros crentes, enquanto que quem não tem passado por essa experiência, não são, embora se denominem a si mesmos crentes.
Essa experiência de ‘abertura’, como ele a chamou, aonde a verdade chegava, já formada, ao seu coração, repetir-se-ia nos dias seguintes, e ao longo de toda a sua vida. Da mesma maneira, entendeu claramente que por ter estudado em Oxford ou em Cambridge não qualificava a um homem para ser ministro de Cristo – apesar de que isto ia contra o ponto de vista usualmente aceito, inclusive por ele mesmo até esse momento.
Depois de outra dessas ‘aberturas’, compreendeu que Deus não habita em templos feitos por mãos de homens, mas no coração das pessoas. Que o seu povo é o seu templo e que ele habita neles. Não obstante, uma experiência ainda mais profunda estava por chegar. Em sua autobiografia nos conta que quando todas as suas esperanças em ministros e pregadores, e ainda em todo homem, esgotaram-se, de modo que não ficava nada exterior em que apoiar-se e nada mais que ele pudesse fazer, escutou uma voz que lhe dizia, «Há um, Cristo Jesus, que pode responder a sua condição». Então –nos diz– o seu coração saltou de gozo. Ninguém mais que Cristo podia responder ao seu coração entrevado, e isto, para que só Cristo tivesse a glória. Todos, tal como ele, estão cegados debaixo do pecado, e só Cristo pode lhes iluminar, concedendo a sua graça e poder. Só ele tem a preeminência.
Isto foi para ele, enfatiza Fox, um conhecimento experimental. A partir desse dia todos os seus sofrimentos, trevas e tentações se dissiparam. Viu que Cristo era poderoso para vencer nele todas essas coisas e ainda mais. Agora tinha a certeza de ser guardado por Cristo do poder do pecado, mediante o Espírito Santo. Todas as suas necessidades estavam satisfeitas em Cristo. Depois deste acontecimento se sentiu compelido a anunciar a todos os homens aquilo que tinha descoberto por experiência própria, e começou um aguerrido ministério itinerante. Este foi o começo das «Sociedades de Amigos», a quem seus caluniadores apelidaram «Quaker».
 Seus ensinos e conduta
Os Quaker, a partir de Fox e seus ensinos, rejeitavam todos os aspectos exteriores da religião dos seus dias, considerando-os como um formalismo vazio. Ao contrário, enfatizavam o conhecimento e as realidades espirituais interiores como o único realmente válido. Em dias de ortodoxia fria e exterior, fizeram um ousado chamado para «conhecer a verdade no íntimo». A luz interior, diziam, que mora no coração de cada crente, ensina-nos todas as coisas. Não é que menosprezassem a Bíblia, como pretendiam seus adversários, mas enfatizavam a absoluta necessidade de que o Espírito Santo a revele no íntimo. Além dessa revelação interior, as doutrinas, e ainda a própria Bíblia –diziam– carecem de significado. Tudo deve ser avaliado pela experiência interior.
Por isso, consideravam à igreja como uma entidade exclusivamente espiritual, conformada por todos aqueles que nasceram de novo; e desprezavam todos seus aspectos exteriores como carentes de significado, inclusive o batismo e a ceia do Senhor, como parte de sua reação contra o formalismo excessivo de seu tempo. Para eles, estes sacramentos eram interiores e espirituais. Além disso, rejeitavam o ministério oficial e profissional, afirmando que o verdadeiro ministério era concedido pelo Espírito, além dos títulos e ordenações exteriores. Rejeitavam, por outro lado, os templos, que em seu tempo eram considerados ‘lugares santos’, intitulando-os de ‘casas campanários’. Para eles, o verdadeiro templo eram os crentes, em quem Deus habitava em Espírito.
Quanto à vida cristã prática negava-se a pronunciar juramentos e detestavam todo tipo de simulação ou hipocrisia social. De fato, consideravam a todos os homens como iguais em dignidade, sem importar a sua origem ou condição social. Negavam-se a prestar ‘honras sociais’ a nobres ou outros títulos sociais, pois sentiam uma aversão profunda a toda forma de servilismo (não obstante, reconheciam os títulos de rei ou juiz). Jamais tiravam o chapéu diante de um poderoso ou nobre em sinal de respeito, o qual levou a muitos deles para a prisão.
Eram, além disso, pacifistas convencidos e militantes, que se negavam a usar as armas e preveniam a todos contra o uso delas, ainda a risco de serem considerados como traidores. Todas as guerras sem exceção, julgavam os irmãos, procediam das paixões humanas, de acordo com o texto de Tiago. Também se opunham ardentemente à escravidão, pois para eles todos os homens eram iguais perante Deus. Em suma, de acordo aos Quaker, todo verdadeiro cristão devia mostrar uma vida consagrada e transformada pela vida interior do Espírito.
Por outro lado, os irmãos criam firmemente na vigência de carismas espirituais. George Fox relata numerosos incidentes de cura, libertações de demônios, profecias e palavras de conhecimento sobrenatural em sua própria experiência. Não obstante, eram normalmente moderados e sérios no emprego dos mesmos, evitando qualquer excesso emocional. É interessante notar que uns cinqüenta anos mais tarde, durante o avivamento metodista, muitos quakeres sentiram saudades ante as manifestações emocionais que observavam nas reuniões de Whitefield e Wesley. Toda essa emotividade resultava alheia aos seus sentimentos, mais acostumados à quietude.
 Sua história e sofrimentos
Tratava-se de um verdadeiro protesto contra a religião formal e vazia dos seus dias. Muitos se sentiram atraídos por seus ensinos e por volta de 1652 se reuniram em Preston Patrick, ao norte da Inglaterra, a primeira «Sociedade de Amigos». Logo apareceram muitas mais em todo o país. Embora os Quaker enfatizassem a importância da voz interior do Espírito, as suas reuniões estavam muito longe de parecer-se com os cultos pentecostais posteriores. Congregavam-se quietamente, formando círculo ou dois grupos de fileiras opostas, sem nenhum tipo de ministro ou direção formal, e esperavam em silêncio até que um deles, ou talvez vários, recebesse uma palavra para compartilhar com seus irmãos. Era permitido a todos falar, tanto homens como mulheres, se isso fosse feito sob a direção do Espírito. Os Quaker criam e praticavam o sacerdócio de todos os crentes, apoiados em que todos tinham a Luz interior para os guiar.
As circunstâncias da história inglesa explicam a terrível reação que deveriam suportar. Os dissidentes não conformistas ascenderam momentaneamente ao poder durante a regência de Oliver Cromwell. Os bispos anglicanos foram exilados e por um tempo se gozou da liberdade de culto. Isto foi favorável para Fox e as sociedades de amigos, que se estenderam por toda a Inglaterra. Não obstante, o estilo confrontacional de alguns deles atraiu para eles vários problemas, inclusive com o governo relativamente tolerante de Cromwell. Acostumavam interromper as reuniões nos templos oficiais, normalmente depois do sermão, para expor os seus ensinos, provocando às vezes desordens e ataques violentos da multidão (embora nunca respondessem às agressões de seus atacantes). Em torno de 3.200 deles sofreram a prisão durante esse período, debaixo de terríveis condições e abusos, não só por interromper cultos oficiais, mas também por supostas blasfêmias, não tirar o chapéu diante de pessoas de alta classe social, e negar-se a pegar nas armas. Fox mesmo esteve oito vezes na prisão ao longo de sua vida.
Tanto homens como mulheres enfrentaram com admirável valor a perseguição, os golpes e as humilhações a que eram submetidos pelo povo enfurecido. Não retrocediam, nem se escondiam diante dos seus perseguidores. De fato, não faziam nada para evitar serem capturados e postos na prisão. Apesar de tudo, a Sociedade de Amigos cresceu e inclusive enviou missionários às reservas indígenas na América do Norte, Holanda e Alemanha.
Entretanto, o sofrimento mais intenso iria vir depois da morte de Cromwell. A monarquia foi restaurada sob Tiago II, e isto trouxe certo alívio aos irmãos por um breve tempo. Mas, mais adiante, com a publicação da «Ata de Uniformidade», em que se obrigava a todos os súditos do reino a conformar-se à restaurada «Igreja da Inglaterra», sob ameaça de penas severas, milhares sofreram a prisão e a perda de todos os seus bens materiais, pois se negaram a aceitar o decreto e continuaram reunindo-se abertamente, desafiando a proibição – a diferença dos grupos não conformistas, que continuaram adiante em segredo. Em torno de 400 irmãos morreram na prisão durante aqueles anos. 
Por causa dos enormes sofrimentos que deveriam enfrentar, tal como fizeram os Puritanos, alguns começaram a migrar para a América. William Penn, filho de um famoso almirante inglês, tinha abraçado as idéias dos Quaker em 1666, e chegou a converter-se em um dos seus maiores pregadores e defensores. Este decidiu achar na América do Norte um lar livre para os seus, e começou ajudando a enviar uns oitocentos deles para Nova Jersey em 1667. Mais adiante, obteve como pagamento de uma dívida do Rei Carlos II a concessão de um grande território no Novo Mundo, que foi mais tarde conhecido como Pensilvânia, em honra a seu nome. Ali foi fundada Filadélfia, a primeira cidade Quaker da América. Um novo capítulo se abriu assim para a história dos Quaker refugiados.
Finalmente, em 1689, ditou-se na Inglaterra uma ata de tolerância, e as sociedades de amigos puderam ao fim gozar de liberdade de culto. George Fox morreu pouco tempo depois, em 1691, depois de um incansável e sofrido ministério itinerante.
 Legado espiritual
Embora os Quaker fossem muito longe em sua rejeição a todas as formas exteriores da igreja, inclusive aquelas ensinadas no Novo Testamento (com o qual se torna difícil concordar), o seu valor radica em que por seu intermédio foi restaurada a importância da morada interior do Espírito Santo, como divino Condutor e Mestre de todos os crentes.
Sua convicção de que a Escritura, as doutrinas corretas e as práticas eclesiásticas não significam muito além da vida que ministra o Espírito, continuam vigentes até hoje. Porque o conhecimento da verdade no íntimo, por revelação do Espírito, é vital para a vida dos crentes, tão individual como corporativamente. As coisas exteriores devem sempre ser a expressão das realidades exteriores e espirituais. De outra maneira, tornam-se vazias e mortas. Na Inglaterra de seus dias esse era o caso e por isso reagiram com tanta ousadia.
Era necessária uma restauração, e para isso deveriam começar com o essencial. Tornou-se fundamental redescobrir a Cristo de uma maneira experimental. Só assim o pecado, a religiosidade e a morte que imperavam em seu tempo podiam ser revertidos. Por isso, os Quaker levantaram o estandarte do testemunho para recordar que Cristo não habita nas doutrinas corretas, nos templos e nos ritos exteriores, mas no coração dos crentes, ministrando-lhes a sua vida, poder e direção para vencer em todas as coisas. E, se inclinaram demasiadamente para um extremo da verdade, se deve, sobretudo, a que o Cristianismo de seus dias se inclinou mortalmente para o extremo contrário.

terça-feira, 13 de setembro de 2011

Cometa Elenin: Verdade ou mentira?

Amigos, a paz do Senhor! diante de tantas informações em relação a um suposto cometa que trará influência em nosso planeta nos próximos dias, existem vários rumores circulando na internet. Coletei algumas informações a respeito desse cometa chamado Elenin (uma homenagem ao seu descobridor). Se tiverem paciência chequem as fontes abaixo e tirem suas conclusões.  
Imagem cedida por: http://particulasdafonte2.blogspot.com/2011/03/cometa-elenin-2000-pn9.html
Imagem cedida por: http://www.apolo11.com/cometa_73p.php?titulo=Astronomia_Saiba_tudo_sobre_a_aproximacao_do_cometa_Elenin&posic=dat_20110523-095359.inc

http://www.youtube.com/playlist?feature=iv&list=PLD55328C3F996AC55


http://www.youtube.com/watch?v=iM1wu7umx10&list=PLD55328C3F996AC55&index=1


Site do astrônomo que descobriu o elenin


http://spaceobs.org/en


Orbita do cometa Elenin (NASA)


http://ssd.jpl.nasa.gov/sbdb.cgi?sstr=elenin&orb=1


medidas governamentais sobre ameaça de impacto:


http://impact.arc.nasa.gov/news_detail.cfm?ID=183





Destaques da passagem do cometa Elenin
Quando ver
A partir de 20 de julho, depois do pôr-do-Sol. Neste dia o cometa atingirá magnitude 9.9 e poderá ser visto por lunetas de pequeno porte. Após setembro será possível vê-lo desde a madrugada até o nascer do Sol com magnitude teórica de 4.6.
Até quando?
Até Novembro. Depois disso o cometa nascerá com o Sol já alto na maior parte do país, ofuscando a observação.
Núcleo
3.5 km de diâmetro
Coma
80 mil km de diâmetro
Velocidade
86000 km/h. Relativa ao dia da máxima aproximação
10 de setembro
Periélio (menor distância do Sol): 71 milhões de quilômetros
23 a 28 de setembro
Cometa visível nas imagens Lasco do satélite Soho
26 de setembro
Mínimo ângulo com o Sol: 1.9 grau de separação
8 de outubro
Conjunção com Cometa 45P/Honda-Mrkos-Pajdušáková
15 de Outubro
Conjunção com Marte
16 de outubro
Perigeu: máxima aproximação coma Terra a 34.9 milhões km
22 de Novembro
Oposição a 175 graus do Sol
































FONTE: http://www.apolo11.com/cometa_73p.php?titulo=Astronomia_Saiba_tudo_sobre_a_aproximacao_do_cometa_Elenin&posic=dat_20110523-095359.inc

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

A Promessa de Deus e o dever cristão (John Owen)


www.discernimentobiblico.net


Em Romanos 8.13 o apóstolo Paulo confronta seus leitores com duas maneiras deferentes de se viver.

A primeira é esta: “se viverdes segundo a carne, caminhais para a morte”.

A segunda – a alternativa é - : “se pelo Espírito mortificardes os efeitos do corpo, certamente vivereis”.
O propósito aqui é estudar a segunda destas maneiras de viver.
Começaremos o nosso estudo examinando as cinco palavras ou frases que formam o nosso texto:

EM PRIMEIRO LUGAR, o texto começa com a palavra “SE”. Paulo usa este “se” para indicar a conexão entre mortificar os feitos do corpo e o viver. É como se disséssemos a um homem doente: “se tomar remédio, logo se sentirá melhor”.. Ao homem decente se está fazendo uma promessa de melhoria na sua saúde, desde que siga o conselho que é dado. Da mesma maneira, o “se” do nosso texto nos diz que Deus determinou “mortificar os feitos do corpo” como o meio infalível de conseguirmos “vida”.

Há uma conexão inquebrável entre verdadeiramente mortificarmos o pecado e a vida eterna. “Se... mortificardes o pecado vivereis!” Aqui está a razão para cumprirmos o dever que Paulo nos prescreve.

EM SEGUNDO LUGAR, a palavra “VÓS” nos diz a quem o dever e a promessa se aplicam. “Vós” se refere a cristãos descritos no verso 1 como “os que estão em Cristo Jesus”.

Refere-se àqueles nos quais o Espírito vive (vs. 10,11). É estupidez e ignorância se esperar que qualquer um, exceto um verdadeiro cristão, desempenhe este dever. Se pensarmos cuidadosamente sobre para quem Paulo está escrevendo e o que ele lhes está dizendo, podemos fazer a seguinte afirmação:

“Os verdadeiros cristãos, que estão definitivamente livres do poder condenatório do pecado, ainda devem se ocupar durante toda a vida com a mortificação do remanescente poder do pecado.”
EM TERCEIRO LUGAR, a frase “PELO ESPÍRITO” se refere à causa principal ou aos meios para cumprirmos esse dever. O Espírito aqui é o mesmo do vs. 11. Ele vive em nós (v.9) e nos dá vida (v.11). Ele é o Espírito de adoção (v.15) e nos ajuda nas nossas fraquezas (v.26). Todos os outros meios de tentarmos mortificar o pecado são inúteis.

As pessoas podem tentar isso de outras maneiras (Rm 9.30-32). Eles sempre o fizeram e sempre o farão. “Mas esta é a obra do Espírito”, diz Paulo. Só Ele pode realizá-la. Mortificar o pecado na sua própria força, segundo as suas idéias, leva à justiça-própria. Isso é a essência de toda religião falsa.

EM QUARTO LUGAR, a frase, “MORTIFICARDES OS FEITOS DO CORPO” nos apresenta o dever a ser cumprido. Consideremos esta frase perguntando e respondendo três perguntas:

a) O que se entendo por “O CORPO”? é uma outra expressão semelhante, no seu significado, à “natureza pecaminosa” (vs. 3,4,5,8,12 e 13 ). Paulo está enfatizando a diferença entre o Espírito e a natureza pecaminosa. O corpo é o instrumento que o pecado inerente em nós usa para se expressar. Desse modo Paulo usa a expressão “o corpo” para representar a corrupção e a depravação do homem.

b) O que significa “OS FEITOS?” Isto se refere Às ações pecaminosas que uma natureza pecaminosa produz. Em Gálatas 5.19 no qual estes atos são descritos, Paulo nos dá alguns exemplos destes “feitos”. A maior preocupação de Paulo não é com os “feitos” externos mas com suas causas internas. É com desinibido desejo mal, o qual produz os feitos que precisamos lidar radicalmente.

c) O que significa “MORTIFICARDES”? Esta é uma linguagem figurada. Imagine que se mate um animal. Matar um animal é tirar-lhe sua força, seu poder e sua vida de tal maneira que ele não possa mais agir ou fazer o que quiser.

Esta é a figura aqui. A natureza pecaminosa (ou, o pecado remanescente) é comparado a uma pessoa, o “velho eu”,com seus recursos, habilidade, sabedoria, sutiliza, força, etc. Isto, diz-nos Paulo, precisa morrer. Precisa ser morto (mortificado ), ou seja, sua força, poder e vida precisam ser tirados pelo Espírito.

Em certo sentido este é um fato que já ocorreu. Diz-se que o velho eu já está “crucificado com Cristo” (Rm 6.6).”Morremos com Cristo” (Rm 6.8). Isto aconteceu quando nascemos de novo (Rm 6.3-8). Entretanto, cada cristão ainda tem os remanescentes de uma natureza pecaminosa que irão constantemente procurar se expressar. É dever de cada cristão mortificar os remanescentes desta natureza pecaminosa. Isto precisa ser feito continuadamente de modo que aos desejos da natureza pecaminosa não seja dada oportunidade para se expressarem. (Gl 5.16).

FINALMENTE, a frase “VIVEREIS” provê a promessa que é dada pra encorajar os cristãos no seu dever. A vida prometida é o oposto da morte enunciada no caso anterior, “se viverdes segundo a carne, caminhais para a morte” ( veja também Gl 6.8).

É provável que Paulo tenha em mente tanto a vida espiritual em Cristo como a vida eterna. Todos os cristãos verdadeiros têm esta vida mas podem perder seu gozo, ser conforto e sua força. Num contexto diferente, o apóstolo Paulo escreve: “porque agora vivemos, se é que estais firmados no Senhor” (1 Ts 3.8), isto é, agora a minha vida me fará bem; terei gozo e conforto na minha vida. De modo semelhante, o apóstolo está dizendo aqui: “vocês terão uma vida boa, vigorosa, confortável, e espiritual, enquanto estiverem aqui, e receberão a vida eterna ao final”.

Se tomarmos essa promessa desta maneira teremos mais motivos para realizarmos este dever.
A FORÇA, O PODER, E O GOZO EM NOSSA VIDA ESPIRITUAL DEPENDEM DE MORTIFICARMOS AO ATOS DA NATUREZA PECAMINOSA.

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