quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

BIOGRAFIA: George Whiterfield, o Pregador ao ar livre!

Imagem cedida por: http://famousamericans.net/georgewhitefield/


 Vida de George Whitefield

Quais foram os homens que reavivaram a religião na Inglaterra há cem anos atrás? Quais foram seus nomes, a fim de que possamos honrá-los? Onde eles nasceram? Como foram educados? Quais são os fatos mais importantes nas suas vidas? Qual foi a área especial em que trabalharam? A estas questões eu desejo fornecer algumas respostas no presente e nos subseqüentes capítulos.

Eu tenho pena do homem que não tem interesse nestas perguntas. Os instrumentos que Deus emprega para fazer a sua obra no mundo merecem um cuidadoso exame. O homem que não se incomoda em olhar para os chifres de carneiro que derrubaram Jericó, para o martelo e estaca que mataram Sísera, para as tochas e trombetas de Gideão, para a funda e pedra de Davi, pode muito bem ser considerado como uma pessoa fria e sem coração. Eu estou certo de que todos os que lerem este volume gostarão de conhecer alguma coisa a respeito dos evangelistas ingleses do século dezoito.

O primeiro que mencionarei é o bem conhecido George Whitefield. Embora não seja o primeiro em ordem, se olharmos para a data de seu nascimento, eu o coloco como primeiro quanto aos méritos, sem nenhuma hesitação. De todos os heróis espirituais de cem anos atrás, nenhum compreendeu tão cedo quanto Whitefield, as demandas de seu tempo, e ninguém estava tão na dianteira na grande obra de ofensiva espiritual. Eu penso que cometeria uma injustiça se colocasse qualquer outro nome na frente do seu.


Whitefield nasceu em Gloucester, no ano de 1714. Esta venerável cidade, que foi o lugar de seu nascimento, está ligada com mais de um nome que deveria ser querido a todo amante da verdade protestante. Tyndale, um dos primeiros e mais capazes tradutores da Bíblia inglesa, também nasceu em Gloucester.
Hooper, um dos maiores e melhores dos nossos reformadores ingleses, foi bispo de Gloucester, e foi queimado na fogueira por causa da verdade de Cristo, diante da sua própria igreja, no reinado da Rainha Maria. No século seguinte, Miles Smith, Bispo de Gloucester, foi um dos primeiros a protestar contra os procedimentos romanizadores de Laud, o qual era então Deão de Gloucester. Na verdade, ele ia tão longe nos seus sentimentos protestantes que quando Laud moveu a mesa de comunhão da catedral para o lado direito, e a colocou pela primeira vez do lado oposto do altar, em 1616, o Bispo Smith ficou tão ofendido que se recusou a entrar na catedral a partir daquele dia até a sua morte. Lugares como Gloucester, não podemos duvidar, têm vinculados a si uma rica herança de muitas orações. A cidade aonde Hooper pregou e orou, e onde o zeloso Miles Smith protestou, foi o lugar onde nasceu o maior pregador do Evangelho que a Inglaterra jamais viu.

Como muitos outros homens famosos, Whitefield era de origem humilde, e não gozava de conhecimento de pessoas ricas ou nobres para ajudá-lo a ir avante no mundo. Sua mãe possuía a hospedaria Bell em Gloucester, e parece que não prosperou no negócio. De qualquer modo, parece que ela nunca teve condições de fazer nada para que Whitefield avançasse na vida. A hospedaria ainda existe, e é tida como o lugar de nascimento não apenas do nosso maior pregador inglês, mas também de um bem conhecido prelado inglês: Henry Philpot, Bispo de Exeter.
O início da vida de Whitefield, de acordo com seu próprio relato, foi tudo, menos religioso, embora, como muitas crianças, ele tivesse ocasionais fisgadas de consciência e afetos espasmódicos de sentimentos de devoção. Mas, os hábitos e os gostos em geral são o único teste verdadeiro dos caracteres dos jovens. Ele confessa que era ‘dado à mentira, conversa obscena, galhofa tola’, e que era um ‘profanador do domingo, freqüentador de teatro, jogador de cartas e leitor de romances’. Tudo isso, diz ele, continuou até a idade de quinze anos.
Pobre como era, sua residência em Gloucester lhe proporcionou a vantagem de uma boa educação na escola pública secundária da cidade. Aí ele foi um estudante externo até a idade de 15 anos. Nada é conhecido a respeito do seu progresso aí. Entretanto, ele dificilmente deve ter sido ocioso, pois neste caso não estaria pronto para ingressar na universidade logo depois, com a idade de 18 anos. Além disso, suas cartas mostram uma familiaridade com o latim, através de freqüentes citações, o que dificilmente seria conseguido se não houvesse aprendido na escola. O único fato conhecido a respeito dos seus dias na escola é o fato curioso de que ele era notável por sua elocução e memória, e foi selecionado para recitar discursos diante da Corporação de Gloucester quando da sua visita anual à Escola Secundária.

Com a idade de 15 anos Whitefield deixou a escola, e parece ter abandonado o latim e o grego por um tempo. Com toda a probabilidade, as difíceis circunstâncias financeiras de sua mãe tornaram absolutamente necessário que ele fizesse alguma coisa para ajudá-la no seu negócio e que ganhasse o seu próprio sustento. Assim, ele começou a ajudá-la no serviço diário de sua hospedagem. ‘Finalmente,’ diz ele, ‘eu coloquei o meu avental azul, lavei copos, limpei salas e, em uma palavra, tornei-me um zelador declarado durante um ano e meio.’

Este estado de coisas, entretanto, não durou muito; o negócio da sua mãe na hospedaria não floresceu e ela finalmente aposentou-se totalmente. Um antigo colega de escola reavivou em sua mente a idéia de ir para Oxford, e ele voltou para os bancos da Escola Secundária reiniciando seus estudos. Alguns amigos que estavam interessados por ele se levantaram no Pembroke College, em Oxford, onde a Escola Secundária de Gloucester fez duas exibições. Finalmente, após diversas circunstâncias providenciais terem suavizado o caminho, ele ingressou em Oxford como um servente no Pembroke College com a idade de 18 anos.

O período em que Whitefield residiu em Oxford foi o momento crucial na sua vida. O seu jornal nos diz que durante os dois ou três anos que antecederam a sua ida para a Universidade, ele não esteve isento de convicções religiosas. Mas, a partir do momento em que ingressou no Pembroke College, estas convicções rapidamente amadureceram em direção a um cristianismo convicto. Ele fazia uso diligente de todos os meios de graça ao seu alcance. Ele gastava seus tempos vagos visitando a prisão da cidade, lendo para os prisioneiros, e tentando fazer o bem. Ele conheceu os famosos John Wesley, seu irmão Charles Wesley, e um pequeno grupo de jovens do mesmo pensamento, incluindo o conhecido autor de ‘Theron and Aspasion,’ James Hervey. Este era o devotado grupo aos quais o termo ‘metodistas’ foi aplicado pela primeira vez, por causa do seu ‘método’ estrito de viver. Num certo período da sua vida, Whitefield parece ter devorado com prazer livros como: ‘Thomas à Kempis’, e, ‘O Combate Espiritual de Castanuza’, e ter estado em perigo de tornar-se um semi-papista, um ascético ou um místico, e de fazer da auto-negação o centro da religião. Ele diz em seu jornal: ‘Eu sempre escolhia o pior tipo de alimento. Eu jejuava duas vezes por semana; minha aparência era desprezível. Eu pensava que passar brilhantina no cabelo era impiedade. Eu usava luvas de lã, roupa remendada, e sapatos sujos; e pensei que estava convencido de que o reino não consiste em comida e bebida, mas ainda persistia resolutamente nestes atos voluntários de auto-negação, porque encontrava neles grande estímulo para a vida espiritual.’ Ele foi gradualmente libertado de toda esta escuridão, em parte pelo conselho de um ou dois cristãos experientes, e em parte pela leitura de livros tais como: ‘A Vida de Deus no Coração do Homem’ de Scougal, ‘Apelo Sério’ de Law, ‘Apelo aos não Convertidos’ de Baxter, ‘Alerta a Pecadores não Convertidos’ de Alleine, o comentário de Matthew Henry. ‘Acima de tudo’ diz ele, ‘tendo a minha mente agora mais aberta e alargada, eu comecei a ler as Sagradas Escrituras de joelhos, colocando de lado todos os outros livros e orando, se possível, sobre cada linha e palavra. Isto proveu alimento e bebida de fato para minha alma. Eu diariamente recebia vida fresca, luz e poder do alto. Eu obtive mais conhecimento verdadeiro da leitura do Livro de Deus em um mês do que jamais poderia adquirir de todos os escritos dos homens.’ Uma vez ensinado a entender a gloriosa liberdade da graça de Cristo, Whitefield nunca mais voltou-se para o ascetismo, legalismo, misticismo, ou estranhas idéias da perfeição cristã. A experiência adquirida por meio de amargo conflito lhe foi muito valiosa. As doutrinas da livre graça uma vez plenamente aprendidas, lançaram profundas raízes no seu coração, e tornaram-se como se fosse osso do seu osso e carne da sua carne. De todo o pequeno grupo de metodistas de Oxford, nenhum parece ter se apossado tão cedo de uma clara visão do Evangelho de Cristo como ele o fez, e nenhum a guardou tão resolutamente até o fim.

Com a idade de 22 anos, Whitefield foi admitido às Santas Ordens pelo Bispo Benson de Gloucester, no Domingo da Santíssima Trindade, em 1736. Sua ordenação não resultou da sua própria busca. O bispo ouviu de Lady Selwyn e de outros a respeito do seu caráter, mandou buscá-lo e deu-lhe cinco guinéus para comprar livros, oferecendo-se para ordená-lo quando ele desejasse, embora tivesse apenas 22 anos de idade. Esta oferta inesperada o alcançou quando ele estava cheio de escrúpulos a respeito da sua própria condição para o ministério. Aquilo desfez as amarras e o levou a tomar uma decisão. ‘Eu comecei a pensar’, diz ele, ‘que se continuasse a resistir, eu lutaria contra Deus’.

O primeiro sermão de Whitefield foi pregado na própria cidade onde ele nasceu, na Igreja de Sta. Mary-le-Crypt, em Gloucester. A sua própria descrição é o melhor relato que pode ser dado: ‘Domingo passado, de tarde, eu preguei meu primeiro sermão, na Igreja de Sta. Mary-le-Crypt, onde fui batizado e também pela primeira recebi o sacramento da Ceia do Senhor. Curiosamente, como você pode facilmente conjecturar, isto atraiu uma grande congregação na ocasião. A visão, à princípio, atemorizou-me um pouco. Mas fui confortado com um sentimento sensível ao meu coração da presença divina, e logo descobri a indizível vantagem de ter sido acostumado a falar em público quando garoto na escola, e de exortar prisioneiros e pessoas pobres nas suas casas quando na Universidade. Por meio disso fui guardado de ser demasiadamente desencorajado. Quando eu prosseguia percebi um fogo se acender, até que por fim, embora tão jovem e cercado por uma multidão daqueles que me conheciam desde os dias da minha meninice, eu acredito que fui habilitado a pregar o Evangelho com algum grau de autoridade. Alguns poucos escarneceram, mas a maioria parecia subitamente impressionada; e eu ouvi que uma queixa foi feita ao bispo, de que eu havia levado quinze pessoas à loucura com o meu primeiro sermão! O digno prelado desejou que a loucura não viesse a ser esquecida antes do próximo domingo.’

Quase que imediatamente após sua ordenação, Whitefield foi para Oxford e obteve seu grau de Bacharel em Artes. Ele então começou sua vida ministerial regular assumindo deveres temporários na Tower Chapel em Londres. Enquanto servia ali, pregou continuamente em muitas igrejas de Londres, e entre outras, nas igrejas paroquiais de Islington, Bishopsgate, Sto. Dunstan, Sta. Margaret, Westminster, Ibow, Cheapside. Desde o início ele obteve um grau de popularidade tal, que nenhum pregador antes ou desde então provavelmente jamais alcançou. Quer em dias de semana ou domingos, onde quer que ele pregasse as igrejas lotavam e uma grande sensação era produzida. A grande verdade é que um pregador extemporâneo e realmente eloqüente, pregando o puro Evangelho com os dons de voz e de maneiras não usuais, era naquele tempo uma completa novidade em Londres. As congregações eram tomadas de surpresa e arrebatadas. De Londres ele foi transferido por dois meses para Dummer, numa pequena paróquia rural em Hampshire, perto de Basingstoke. Esta era uma esfera de ação totalmente nova, e ele parecia como que um homem enterrado vivo entre aquele povo pobre e iletrado. Mas cedo ele adaptou-se a situação, e concluiu posteriormente que colheu muito proveito das conversas que teve com os pobres. De Dummer ele aceitou um convite, o qual lhe havia sido feito com insistência pelos irmãos Wesley para visitar a colônia de Geórgia na América do Norte, para ajudar no cuidado de uma casa de órfãos que havia sido estabelecida perto de Savannah para filhos de colonizadores. Após pregar por alguns poucos meses em Gloucestershire, e especialmente em Bristol e Stonehouse, ele viajou para América no segundo semestre de 1737, permanecendo lá por cerca de um ano. As coisas relacionadas com esta casa de órfãos, deve-se observar, ocuparam muito da sua atenção desde este período da sua vida até a sua morte. Apesar de bem intencionado, parece ter sido uma decisão de questionável sabedoria, e certamente acarretou a Whitefield um mundo de ansiedade e responsabilidade até o fim de seus dias.
Pregando ao ar livre. Imagem cedida por: http://famousamericans.net/georgewhitefield/ 

Whitefield retornou da Geórgia na segunda parte do ano de 1738, em parte para obter as ordens do sacerdote, que lhe foram conferidas pelo seu antigo amigo, o Bispo Benson, e em parte para tratar de negócios relacionados com a casa de órfãos. Ele cedo descobriu, entretanto, que a sua posição não era mais a mesma de antes de haver viajado para a Geórgia. O grosso do clero não lhe era mais favorável e olhavam-no com suspeitas, como um entusiasta e um fanático. Eles estavam escandalizados principalmente por causa da pregação da doutrina da regeneração ou do novo nascimento, como algo que muitas pessoas batizadas necessitavam grandemente! 

O número de púlpitos aos quais ele tinha acesso rapidamente diminuiu. Os guardiões da igreja, os quais não tinham olhos para a bebedeira e impureza, ficaram cheios de intensa indignação sobre o que eles chamavam de ‘violação da ordem’. Bispos que podiam tolerar o Arminianismo, Socinianismo e Deísmo, encheram-se de indignação contra um homem que declarava plenamente a expiação de Cristo e a obra do Espírito Santo, e começaram a denunciá-lo abertamente. Para abreviar, deste período da sua vida em diante, o campo de utilidade de Whitefield dentro da Igreja da Inglaterra estreitou-se rapidamente de todos os lados.

O fato que neste tempo provocou uma reviravolta em todo o curso do ministério de Whitefield foi sua adoção do sistema de pregação a céu aberto. Observando que milhares em todo lugar não freqüentavam locais de culto, gastavam seus domingos na ociosidade ou no pecado e não eram alcançados pelos sermões pregados dentro das paredes dos templos, ele resolveu, num espírito de ofensiva santa, ir atrás deles ‘nas ruas e becos’, de acordo com o princípio de seu Mestre, e ‘compeli-los a entrar’. A sua primeira tentativa em fazer isso foi entre os mineiros de carvão em Kingswood, perto de Bristol, em fevereiro de 1739. Depois de muita oração, ele foi um dia para o monte Hannam, colocou-se de pé sobre o monte, e começou a pregar a aproximadamente uma centena de mineiros, baseado em Mateus 5:1-3. Logo a coisa tornou-se conhecida. O número de ouvintes rapidamente aumentou, até que a congregação contava com muitos milhares. Seu próprio relato da conduta destes mineiros de carvão negligenciados, os quais nunca haviam estado em uma igreja nas suas vidas, é profundamente comovente: ‘Não tendo’, escreve ele a um amigo, ‘nenhuma justiça própria para renunciar, eles ficavam felizes ao ouvir de um Jesus, o qual era um amigo de publicanos, e que não veio chamar os justos, mas pecadores ao arrependimento. A primeira vez que descobri que estavam sendo afetados foi através da visão dos sulcos brancos feitos por suas lágrimas, que rolavam abundantemente das suas faces negras, visto que haviam saído das suas minas de carvão. Centenas deles foram logo levados a uma profunda convicção, a qual, foi comprovado, terminou felizmente em uma sadia e total conversão. A mudança era visível a todos, apesar de alguns terem escolhido atribuí-la a qualquer outra coisa que não ao dedo de Deus. Visto que a cena era totalmente nova, ela freqüentemente ocasionava muitos conflitos interiores. Às vezes, quando vinte mil pessoas estavam diante de mim, eu não tinha uma só palavra para dizer, quer a Deus ou a eles. Mas eu nunca fui totalmente desamparado, e freqüentemente (porque negar isto seria mentir contra Deus) fui de tal modo assistido, que vim a saber, por uma feliz experiência, o que o nosso Senhor tencionava ao dizer ‘do seu interior fluirão rios de água viva’. O firmamento aberto sobre mim, a vista dos campos adjacentes, com a visão de milhares, alguns em carroças, outros sobre o dorso de cavalos, e alguns nas árvores, e às vezes, todos comovidos e em lágrimas, era quase que demais para mim e dominava-me totalmente.’

Dois meses depois disto Whitefield iniciou a prática de pregação a céu aberto em Londres, no dia 27 de abril de 1739. As circunstâncias nas quais isto aconteceu foram curiosas. Ele havia ido para Islington para pregar a convite do vigário, seu amigo, Sr. Stonehouse. No meio da oração os guardiões da igreja vieram a ele e pediram sua licença para pregar na diocese de Londres. E claro que Whitefield não tinha esta licença, assim como nenhum outro ministro que não oficiava regularmente na diocese, naqueles dias. O resultado da questão foi que, sendo proibido de pregar pelos guardiões da igreja no púlpito, ele foi para fora depois da comunhão e pregou no cemitério da igreja. ‘E’, diz ele, ‘Deus agradou-se em assistir-me na pregação e a comover tão maravilhosamente os ouvintes, que acredito que poderíamos ter ido para a prisão cantando hinos. Não digam os adversários que eu mesmo me retirei das suas sinagogas. Não! Eles me expulsaram.’ Daquele dia em diante ele tomou-se um constante pregador do campo quando quer que o tempo e a estação do ano o fizesse possível. Dois dias depois, no domingo de 29 de abril, ele registra: ‘Eu preguei em Moorfields a uma multidão extremamente grande. Tendo ficado debilitado pelo meu sermão da manhã, eu descansei de tarde dormindo um pouco, e às cinco horas fui e preguei em Kenninngton Common, à cerca de duas milhas de Londres, quando não menos do que trinta mil pessoas foram estimadas estar presentes’. Daí em diante, aonde quer que houvesse amplos espaços abertos ao redor de Londres, aonde quer que houvesse grandes grupos de ociosos, ímpios, profanadores do domingo reunidos, em Hackney Fields, Mary-le-bone Fields, May-Fair, Smithfields, Blackheath, Moorfields, Kenninngton Conmion, lá estava Whitefield levantando sua voz por Cristo. O Evangelho assim proclamado era ouvido e alegremente recebido por centenas que nunca sonharam em ir a um lugar de adoração. A causa da pura religião avançou e almas foram arrancadas das mãos de Satanás, como brasas do fogo. Mas a coisa estava indo rápido demais para a igreja daqueles dias. O clero, com poucas exceções, recusava inteiramente apoiar este estranho pregador. Com um espírito de verdadeira inveja, eles nem gostavam de ir atrás das massas da população semi-pagã, nem queriam que ninguém fosse fazer o trabalho para eles. A conseqüência foi que as pregações de Whitefield nos púlpitos da Igreja da Inglaterra a partir deste tempo cessaram quase que inteiramente. Ele amava a igreja na qual havia sido ordenado; ele gloriava-se nos seus artigos de fé; ele usava com prazer os seus livros de oração. Mas a igreja não o amava, e assim perdeu o uso dos seus serviços. A pura verdade é, que a igreja da Inglaterra daqueles dias não estava pronta para um homem como Whitefield. A igreja estava sonolenta demais para entendê-lo e incomodada com um homem que não se aquietava nem deixava o diabo em paz.

Os acontecimentos da história de Whitefield a partir deste período até o dia da sua morte são quase que inteiramente da mesma compleição. Um ano era exatamente como o outro e tentar segui-lo seria apenas pisar repetidamente sobre o mesmo solo. De 1739 até o ano da sua morte em 1770, um período de 31 anos, sua vida foi de uma desenvoltura uniforme. Ele foi eminentemente um homem de uma só coisa, que era o cuidado dos negócios de seu Mestre. De domingo de manhã aos sábados à noite, de primeiro de janeiro a 31 de dezembro, excetuando-se quando ficava impossibilitado por doença, ele estava quase que incessantemente pregando a Cristo, e indo ao redor do mundo convidando os homens ao arrependimento, a virem a Cristo e a serem salvos. Dificilmente houve uma cidade de considerável tamanho na Inglaterra, Escócia ou País de Gales, que ele não tenha visitado como evangelista. Quando as igrejas lhe estavam abertas, ele pregava alegremente nas igrejas; quando apenas capelas podiam ser conseguidas, ele pregava com alegria nas capelas. Quando igrejas e capelas estavam ambas fechadas, ou eram demasiadamente pequenas para conter seus ouvintes, ele estava pronto e desejoso de pregar ao ar livre. Por 31 anos ele laborou deste modo, sempre proclamando o mesmo Evangelho glorioso, e sempre, até onde os olhos humanos possam julgar, com imenso efeito. Numa única semana de pentecostes, após pregar em Moorfields, ele recebeu cerca de mil cartas de pessoas espiritualmente aflitas, e admitiu à mesa do Senhor trezentos e cinqüenta pessoas. Nos trinta e quatro anos do seu ministério é reconhecido que ele pregou publicamente dezoito mil vezes.

Suas viagens foram prodigiosas, quando consideradas as ruas e meios de transportes do seu tempo. Mais do que qualquer homem nos tempos modernos, ele estava familiarizado com ‘perigos no deserto e perigos no mar’. Ele visitou a Escócia quatorze vezes e em nenhum outro lugar foi mais bem aceito e útil do que naquele país amante da Bíblia. Ele cruzou o Atlântico sete vezes, de ida e de volta, em miseráveis e lentos barcos a vela e atraiu a atenção de milhares em Boston, New York e Philadelphia. Ele foi à Irlanda duas vezes, e em determinada ocasião quase foi assassinado por uma turba de papistas ignorantes em Dublin. Na Inglaterra e no País de Gales, ele percorreu cada um de seus condados, da Ilha de Wight até Berwick-on-Thiid, e da Land’s End até North Foreland.

O seu trabalho ministerial regular em Londres durante a estação de inverno, quando a pregação no campo era necessariamente suspensa, era, às vezes, prodigioso. Seus compromissos semanais no Tabernáculo em Tottenham Court Road, o qual foi construído por ele quando os púlpitos da igreja estabelecida foram fechados, compreendiam os seguintes trabalhos: cada domingo de manhã ele ministrava a Ceia do Senhor a diversas centenas de comungantes, às seis e meia. Depois disso, ele lia orações, e pregava de manhã e de tarde. Então pregava novamente no início da noite, às cinco e meia, e concluía dirigindo-se a um largo grupo de viúvas, casais, homens e mulheres solteiros, todos sentados separadamente na área do Tabernáculo, com exortações apropriadas às suas respectivas situações. Nas manhãs de segunda, terça, quarta e quinta, ele pregava regularmente às seis horas. Nas tardes de segunda, terça, quarta, quinta e sábado, ele fazia palestras. Isto, pode-se observar, perfazia treze sermões por semana. E durante todo este tempo ele mantinha uma ampla correspondência com pessoas em quase toda parte do mundo.

Que qualquer constituição humana pudesse suportar os labores que Whitefield suportou durante tanto tempo, parece surpreendente. Que sua vida não tenha sido ceifada pelos perigos aos quais estava freqüentemente exposto, não é menos surpreendente. Mas ele foi imortal até que seu trabalho fosse realizado. Por fim, ele morreu subitamente em Newbury Porth, na América do Norte, num domingo, 29 de setembro de 1770, ainda relativamente novo, com 56 anos de idade. Ele foi casado com uma viúva chamada James, de Abergavenny, a qual morreu antes dele. Se podemos julgar pela pouca menção que ele faz da esposa em suas cartas, o casamento não parece ter contribuído muito para sua felicidade. Ele não deixou filhos, mas deixou um nome bem melhor preservado do que se tivesse deixado filhos e filhas. Talvez nunca tenha havido um homem do qual se pudesse dizer tão verdadeiramente que gastou e foi gasto por Cristo como George Whitefield.

As circunstâncias particulares do fim deste grande evangelista são tão profundamente interessantes que eu não me desculparei em demorar-me neles. Foi um fim em extraordinária harmonia com o teor da sua vida. Assim como havia vivido por mais de trinta anos, assim ele morreu: pregando até o fim. Ele literalmente morreu no posto. ‘Morte súbita’, freqüentemente dizia, ‘é glória súbita. Quer correto ou não, não posso deixar de desejar partir desta maneira. Para mim seria pior do que a morte ter de ser assistido na doença e ver os amigos chorando ao redor de mim’. Ele teve o desejo do seu coração atendido. Foi ceifado numa noite por um acesso espasmódico de asma, quase que antes que seus amigos viessem a saber que se encontrava doente.

Na manhã de sábado, de 29 de setembro, o dia em cuja noite morreria, Whitefield viajou a cavalo de Portsmouth em New Hampshire, a fim de cumprir um compromisso de pregar em Newbury Porth no domingo. No caminho, infelizmente, ele foi convidado insistentemente para pregar em um lugar chamado Exeter, e apesar de se sentir muito doente, não teve coragem de recusar. Um amigo observou que antes de iniciar a pregação, ele parecia mais indisposto do que o usual, e lhe disse, ‘O senhor está mais habilitado para ir para cama do que para pregar.’, ao que Whitefield replicou: ‘É verdade, senhor’, e então, virando-se para o lado, apertou as mãos uma na outra e olhando para cima disse: ‘Senhor Jesus, eu estou cansado na tua obra, mas não da tua obra. Se ainda não terminei minha carreira, deixa-me ir e pregar uma vez mais nos campos, selar a tua verdade, vir para casa e morrer’. Então ele foi e pregou a uma enorme multidão nos campos, baseado em II Coríntios 8:5, pelo espaço de quase duas horas. Foi seu último sermão, e uma conclusão apropriada a toda a sua carreira.

Uma testemunha ocular deu o surpreendente relato da cena final da vida de Whitefield: “Ele levantou-se de sua cadeira, e permaneceu em pé. A sua simples aparência era um poderoso sermão. A magreza de sua face, a palidez do seu semblante, a luta evidente do brilho celestial em um corpo decadente demais para falar, era algo profundamente interessante; o espírito estava querendo, mas a carne estava morrendo. Nesta situação ele permaneceu por diversos minutos, sem conseguir falar. Então ele disse: ‘Esperarei pela graciosa assistência de Deus, porque Ele irá, estou certo, assistir-me uma vez mais para falar em seu nome.’ Então ele pregou talvez um de seus melhores sermões. A parte final continha as seguintes palavras: ‘Eu vou; eu vou para um descanso que me está preparado. O meu Sol deu luz a muitos, mas agora ele está se pondo - não, agora ele está se levantando para o zênite da glória imortal. Eu vivi mais do que muitos na terra, mas eles não viverão mais do que eu nos céus. Muitos viverão mais do que eu na terra, e permanecerão quando este corpo não mais existir, mas lá, oh, pensamentos divinos!, eu estarei num mundo aonde tempo, idade, doença, e sofrimentos são desconhecidos, o meu corpo agora falha, mas o meu espírito se expande. Como eu desejaria viver para sempre para pregar a Cristo. Mas eu morro para estar com Ele. Quão breve - comparativamente breve - foi a minha vida comparada com os imensos labores os quais eu vejo diante de mim ainda não realizados. Mas se eu partir agora, enquanto ainda tão poucos preocupam-se com as coisas celestiais, o Deus da Paz certamente visitará vocês’”. Depois que o sermão terminou, Whitefield jantou com um amigo, então cavalgou para Newbury Porth, apesar de bastante fatigado. Ao chegar ali, ele ceou cedo e retirou-se para a cama. A tradição diz que quando ele subia as escadas com uma vela acesa nas mãos, ele não pôde resistir ao desejo de voltar o rosto, no topo da escada, e falar aos amigos que estavam reunidos, os quais vieram encontrá-lo. Enquanto ele falava, o fogo brilhava dentro dele, e antes que pudesse concluir, a vela que segurava nas mãos queimou até o fim. Ele retirou-se para o seu quarto para não mais sair de lá com vida. Um violento acesso de asma se apoderou dele logo depois que foi para a cama e antes das seis da manhã, o grande pregador estava morto. Quando chegou a hora, ele não tinha nada para fazer a não ser morrer. Onde ele morreu, aí foi enterrado, em uma câmara mortuária abaixo do púlpito da igreja, onde ele estava comprometido para pregar. O seu sepulcro é visto até o dia de hoje e nada faz a pequena cidade onde morreu tão famosa quanto o fato de que ali estão os ossos de George Whitefield.

O Ministério e Pregação de Whitefield

George Whitefield, na minha avaliação, foi tão decididamente o principal e o primeiro dentre os reformadores ingleses do século passado, que não me desculpo por oferecer algumas informações adicionais a seu respeito. O real bem que ele fez, o caráter peculiar da sua pregação, o caráter privado do homem, são todos pontos que merecem consideração. São pontos, posso acrescentar, a respeito dos quais tem havido muita compreensão incorreta.
Esta compreensão incorreta talvez seja inevitável, e não deveria nos surpreender. As fontes para que se forme uma correta opinião a respeito de um homem como Whitefield são necessariamente muito escassas. Ele não escreveu livros lidos por milhões, de fama universal, como ‘O Peregrino’, de Bunyan. Ele não encabeçou cruzadas contra uma igreja apóstata com o apoio de uma nação e príncipes ao seu lado como Martinho Lutero. Ele não fundou nenhuma denominação, que ligasse sua fé aos seus escritos e preservasse cuidadosamente seus melhores atos e palavras. Há Luteranos e Wesleyanos nos dias presentes, mas não há ‘Whitefieldianos’. Não! O grande evangelista foi um homem simples e sincero, que viveu para uma coisa apenas: pregar a Cristo. Fazendo isto, ele não se importava com mais nada. Os registros a respeito desse homem são amplos e plenos nos céus, não há dúvida, mas são poucos e escassos na terra.

Não devemos esquecer, além disso, que muitos em todas as épocas não vêem nada em homens como Whitefield senão fanatismo e entusiasmo. Eles abominam tudo que se pareça com ‘zelo’ em religião. Eles detestam todos os que viram o mundo de cabeça para baixo, fogem do velho caminho da tradição e não deixam o diabo sozinho. Tais pessoas, não tenho dúvidas, nos diriam que o ministério de Whitefield somente produziu excitação temporária, e que sua pregação era mera extravagância, não havendo nada de especial a ser admirado no seu caráter. E de se temer que a dezoito séculos atrás houvessem dito o mesmo a respeito do apóstolo Paulo.

A pergunta, ‘Que bem fez Whitefield?’ é uma pergunta que eu respondo sem a menor hesitação. Eu acredito que o bem direto que ele fez às almas imortais foi enorme. Eu vou adiante, - eu acredito que foi incalculável. Testemunhas dignas de crédito na Inglaterra, Escócia e América registraram sua convicção de que ele foi um instrumento na conversão de milhares de pessoas. Muitos, onde quer que ele pregasse, foram não apenas satisfeitos, excitados, e arrebatados, mas abandonaram seus pecados, e foram feitos reais servos de Deus. ‘Enumerar pessoas’, eu não esqueço, é em todos os tempos uma prática objetável. Somente Deus pode ler os corações e discernir o trigo do joio. Muitos, sem dúvida, em dias de excitação religiosa, são tidos como convertidos, os quais não o foram de modo algum. Mas eu desejo que meus leitores compreendam que a minha alta avaliação da utilidade de Whitefield é baseada em sólida base. Eu peço que observem bem o que os contemporâneos de Whitefield pensavam sobre o valor de seus labores.

Franklin, o bem conhecido filósofo americano era um homem frio e calculista, um Quaker por profissão, o qual, não é de se esperar, que viesse a fazer uma elevada avaliação do trabalho de nenhum ministro. Ainda assim ele confessou: ‘era maravilhoso ver a mudança logo efetuada através da sua pregação nos hábitos dos habitantes de Philadelphia. De descuidados ou indiferentes sobre religião, parecia como se o mundo inteiro estivesse se tornando religioso.’ O próprio Franklin, deve-se notar, foi o principal editor de obras religiosas na Philadelphia, e a sua prontidão em imprimir os sermões e jornais de Whitefield mostram o seu julgamento da influência que Whitefield exercia na mente dos americanos.
Maclaurin, Willison, Macculloch, foram ministros escoceses cujos nomes são bem conhecidos no norte de Tweed, sendo que os dois primeiros merecidamente alcançaram elevada posição como escritores teológicos. Todos eles têm testificado repetidamente que Whitefield foi um instrumento na realização de imenso bem na Escócia. Willison em particular diz, ‘que Deus o honrou com surpreendente sucesso entre pecadores de todas as classes e convicções’.

O velho Henry Venn de Huddersfield e Yelling foi um homem de forte bom senso, assim como de grande graça. Sua opinião foi que ‘se a grandeza, extensão, sucesso e a ausência de sentimentos interesseiros nos labores de um homem podem conferir distinção entre os filhos de Cristo, então estamos autorizados a afirmar que dificilmente qualquer um se igualou ao Sr. Whitefield’. Novamente ele diz: ‘Ele foi abundantemente bem sucedido nos seus amplos labores. Os selos do seu ministério, do início ao fim, estou persuadido, foram maiores do que poderiam ser creditados se o número pudesse ser fixado. Uma coisa é certa: sua espantosa popularidade devia-se apenas à sua utilidade, pois ele mal abria a sua boca como um pregador e Deus conferia uma extraordinária bênção às suas palavras.’

John Newton era um homem perspicaz, assim como um eminente ministro do Evangelho. Seu testemunho é: ‘Aquilo que determinou o caráter do Sr. Whitefield como uma luz resplandecente, sendo agora sua coroa de júbilo, foi o singular sucesso que o Senhor se agradou em conceder-lhe de ganhar almas. Parecia que ele nunca pregava em vão. Dificilmente talvez haja um local em todo o extensivo âmbito de seus labores onde possam ainda ser encontrados alguns que não o reconheçam gratamente como seu pai espiritual.’

John Wesley não concordava com Whitefield em vários pontos teológicos de não pouca importância. Mas quando pregou seu sermão fúnebre, ele disse: ‘Temos nós lido ou ouvido de alguma pessoa que tenha chamado tantos milhares, tantas miríades de pecadores ao arrependimento? Acima de tudo, temos nós lido ou ouvido de alguém que tenha sido um instrumento abençoado na condução de tantos pecadores das trevas para a luz, e do poder de Satanás para Deus?’

Indubitavelmente, estes testemunhos são valiosos, mas há um ponto que eles não mencionaram. Este ponto é a quantidade do bem indireto que Whitefield realizou. Embora os efeitos diretos dos seus labores tenham sido grandes, eu acredito firmemente, que os efeitos indiretos foram ainda maiores. Seu ministério foi uma benção para milhares que talvez nunca o tenham visto ou ouvido.
Ele foi o primeiro, entre os evangelistas do século dezoito, a restaurar a atenção para as antigas verdades que produziram a Reforma Protestante. Suas constantes afirmações das doutrinas ensinadas pelos reformadores, suas repetidas referências aos artigos, homilias e escritos dos melhores teólogos ingleses, obrigaram muitos a pensar, compungindo-os a examinarem seus próprios princípios. Se toda verdade fosse conhecida, eu acredito que comprovaria que a ascensão e progresso do corpo evangélico da Igreja da Inglaterra recebeu um poderoso impulso de George Whitefield.

Mas este não é o único bem indireto que Whitefield fez em seus dias. Ele estava entre os primeiros a mostrar o caminho correto para enfrentar os ataques dos infiéis e céticos do cristianismo. Ele viu claramente que a arma mais poderosa contra tais homens não é um debate metafísico e dissertações críticas, mas pregar todo o Evangelho, viver todo o Evangelho, e disseminar todo o Evangelho. Os escritos de Leland, do jovem Sherlock, de Waterland, e de Leslie, não obtiveram a metade do sucesso que obteve a pregação de Whitefield e seus companheiros em reprimir a enchente de infidelidade. Estes foram os verdadeiros campeões do cristianismo. Infiéis raramente são abalados por meros debates abstratos. Os argumentos mais certos contra eles são a verdade do Evangelho e a vida do Evangelho.

Acima de tudo, ele foi o primeiro inglês que parece ter entendido plenamente o que o Doutor Chalmers apropriadamente chamou de sistema ofensivo. Ele foi o primeiro a ver que os ministros de Cristo devem fazer o trabalho de pescadores de homens. Eles não devem esperar que as almas venham a eles, mas devem ir atrás das almas, e ‘compeli-las a entrar’. Ele não sentava comodamente ao lado de sua lareira, como um gato num dia de chuva, lamentando-se a respeito da impiedade do país. Ele saía para enfrentar o diabo na sua cidadela; atacava o pecado e a impiedade face a face, e não lhes dava sossego. Ele penetrava nas ruas e becos atrás de pecadores; caçava a ignorância e o vício aonde quer que eles pudessem ser encontrados. Em resumo, ele aplicou um sistema de ação, que até o seu tempo era comparativamente desconhecido no seu país, mas um sistema o qual uma vez iniciado, nunca cessou de ser empregado até o dia de hoje. Missões nas cidades, missões nos grandes centros, sociedades de visitas distritais, pregações a céu aberto, missões nacionais, serviços especiais, pregações em teatros, tudo são evidências de que o valor do ‘sistema ofensivo’ é agora generalizadamente reconhecido por todas as igrejas. Agora nós entendemos melhor como trabalhar do que entendíamos cem anos atrás. Mas nunca esqueçamos que o primeiro homem a dar início a estes tipos de atividades foi George Whitefield. Vamos dar a ele o crédito que merece.

O caráter peculiar da pregação de Whitefield é o próximo assunto que demanda algumas considerações. Os homens naturalmente desejam saber qual foi o segredo do seu sucesso sem paralelo. O assunto está envolto em consideráveis dificuldades, e não é tarefa fácil formar um julgamento correto a seu respeito. A idéia comum de muitas pessoas de que ele era um mero e comum metodista exaltado, notável por nada mais a não ser sua grande fluência, forte doutrina e uma poderosa voz, não suporta uma momentânea investigação. O Dr. Johnson foi tolo o suficiente para dizer, que ‘ele vociferava e impressionava, mas não chamava mais atenção do que um charlatão; e que ele chamava atenção não por fazer melhor do que os outros, mas porque fazia algo estranho’. Mas Johnson foi tudo, exceto infalível nas suas opiniões sobre pastores e religião. Tal teoria não tem validade. Ela contradiz fatos inegáveis.

E fato que nenhum pregador na Inglaterra jamais obteve tanto sucesso em atrair a atenção de tão grandes multidões como Whitefield ao pregar constantemente ao redor de Londres. Nenhum pregador jamais foi tão universalmente popular em cada país que visitou, Inglaterra, Escócia e América. Nenhum pregador jamais manteve sua influência tão completamente sobre seus ouvintes como ele o fez por 34 anos. Sua popularidade nunca desvaneceu. Ela era tão grande no fim dos seus dias como o foi no início. Onde quer que ele pregasse, os homens deixavam suas lojas e empregos para reunirem-se ao redor dele, e ouvir como quem ouve para a eternidade. Só isso já é um grande fato. Obter a atenção das ‘massas’ por um quarto de século, e pregar incessantemente por todo este tempo é uma evidência de um poder não comum.

Outro fato, é que a pregação de Whitefield produzia um poderoso efeito em pessoas de todos os níveis. Ele ganhou a admiração das altas e baixas camadas, dos ricos assim como dos pobres, dos eruditos assim como dos ignorantes. Se a sua pregação houvesse sido popular apenas entre os ignorantes e pobres, nós poderíamos pensar na possibilidade de que havia pouco nela exceto declamação e barulho. Mas, longe de ser este o caso, ele parece ter sido aceito por um bom número de nobres e pessoas bem educadas. O Marquês de Lothian, o Conde de Leven, o Conde de Duchan, o Lord Rae, o Lord Dartmouth, o Lord James A. Gordon, poderiam ser citados entre os seus mais calorosos admiradores, além de Lady Huntyngdon e uma grande quantidade de senhoras da Corte.

E um fato que eminentes críticos e homens de letras, como o Lord Bolingbroke e o Lord Chesterfield, foram pessoas que se deleitavam em ouvi-lo freqüentemente. Era reconhecido que mesmo o frio e artificial Chesterfield aquecia-se com a eloqüência de Whitefield. Bolingbroke disse: ‘Ele é o homem mais extraordinário do nosso tempo. Ele tem a eloqüência mais impressionante que jamais ouvi em qualquer pessoa.’ Franklin, o filósofo, não mediu palavras ao falar dos poderes da sua pregação. Hume, o historiador, declarou que valia a pena viajar vinte milhas para ouvi-lo.

A verdade é que fatos como estes não podem ser invalidados. Eles derrubam completamente a teoria de que a pregação de Whitefield não foi nada, exceto barulho e exaltação. Bolingbroke, Chesterfield, Hume, e Franklin não eram facilmente enganáveis. Eles não eram juízes insignificantes de eloqüência. Eles estavam provavelmente entre os críticos mais qualificados de seus dias. Suas opiniões imparciais e sem preconceito parecem-me suprir uma prova inquestionável de que deve ter havido algo muito extraordinário a respeito da pregação de Whitefield. Mas, afinal, a questão permanece sem ser respondida: qual foi o segredo da popularidade e efetividade sem rival de Whitefield? Eu admito francamente que, devido à escassez das fontes que possuímos para formar nosso julgamento, a pergunta é difícil de ser respondida.

A pessoa que folhear os 75 sermões publicados de autoria de Whitefield, provavelmente ficará muito desapontada. Ela não verá neles um intelecto imponente ou profundidade de mente. Não achará neles uma profunda filosofia, nem pensamentos extraordinários. Mas, deve-se observar, entretanto, que a grande maioria foi anotada abreviadamente por repórteres, e publicados sem correção. Estes dignos homens parecem ter feito seu trabalho muito indiferentemente, e eram evidentemente ignorantes quanto à pontuação, parágrafos, gramática, e quanto ao Evangelho. A conseqüência é que muitas passagens nestes 75 sermões são o que o Bispo Latimer chamaria de uma ‘desfiguração’, e o que nós chamaríamos hoje em dia de uma completa desordem. Não é de admirar que o pobre Whitefield tenha dito em uma de suas melhores cartas datada de 26 de setembro de 1769: ‘Eu desejaria que você tivesse advertido contra a publicação de meu último sermão. Ele não está tal qual eu preguei. Em alguns lugares a publicação me faz falar com discordância, e até sem sentido. Em outros lugares o sentido e a conexão são destruídos por parágrafos desconexos, de modo que o todo está totalmente impróprio para a leitura do público.’

Entretanto, eu me aventuro a dizer ousadamente, que com todas as suas faltas, os sermões impressos de Whitefield recompensarão sua leitura. O leitor deve lembrar-se de que eles não foram preparados cuidadosamente para impressão, como os sermões de Melville ou Bradley, mas foram pessimamente registrados, paragrafados, e pontuados, devendo lê-los com isto continuamente em sua mente. Além disso, deve lembrar-se que uma composição em inglês para ser falada a ouvintes, e uma composição em inglês para leitura privada, são quase que duas línguas diferentes; de modo que sermões bons para serem pregados são ruins quando lidos. Lembremo-nos destas duas coisas, e julguemos de acordo, e eu estaria muito enganado se não viéssemos a encontrar muito o que admirar em muitos dos sermões de Whitefield. Da minha parte, eu devo dizer claramente que eles são grandemente subestimados.

Deixe-me agora destacar o que parece ter sido as características distintivas da pregação de Whitefield.
Whitefield pregava um Evangelho singularmente puro. Talvez poucos homens tenham dado aos seus ouvintes tanto trigo e tão pouco restolho. Ele não se levantava para falar sobre sua denominação, sua causa, seu interesse ou seu ofício. Ele estava perpetuamente lhe falando a respeito dos seus pecados, do seu coração, de Jesus Cristo, do Espírito Santo, da absoluta necessidade de arrependimento, fé e santidade, do modo como a Bíblia apresenta estes importantes assuntos. ‘Oh, que justiça a de Jesus Cristo!’ Ele sempre dizia: ‘Eu devo ser desculpado se menciono isso em quase todos os meus sermões.’ Pregação desse tipo é a pregação que Deus se deleita em honrar. Ela deve ser preeminentemente uma manifestação da verdade.

A pregação de Whitefield era singularmente lúcida e simples. O que quer que seus ouvintes pensassem da sua doutrina, não podiam deixar de entender o que ele queria dizer. Seu estilo de falar era fácil, claro e coloquial. Ele parecia abominar sentenças longas e complicadas. Ele sempre tinha em vista o seu alvo e se dirigia diretamente para lá. Ele dificilmente atrapalhava seus ouvintes com argumentos obscuros e raciocínios intrincados. Afirmativas bíblicas simples, ilustrações adequadas, e exemplos pertinentes, eram as armas mais comuns que ele usava. A conseqüência era que seus ouvintes sempre o entendiam. Ele nunca atirava acima das cabeças dos seus ouvintes. Aí está outro importante elemento para o sucesso do pregador. Ele deve esforçar-se de todos os modos para ser entendido. O arcebispo Usher tinha um ditado muito sábio: ‘Fazer coisas simples parecerem difíceis é coisa que qualquer homem pode fazer, mas fazer coisas difíceis, simples, é a obra de um grande pregador’.

Whitefield era um pregador singularmente ousado e direto. Ele nunca usava aquela expressão indefinida ‘nós’, que parece tão peculiar nos nossos púlpitos, e que apenas deixa a mente do ouvinte em um estado enevoado e confuso. Ele enfrentava os homens face a face, como alguém que tem uma mensagem de Deus para eles: ‘Eu vim aqui para lhe falar a respeito da sua alma.’ O resultado era que muitos dos seus ouvintes costumavam pensar que os seus sermões eram dirigidos especialmente a eles. Ele não ficava contente como muitos, em apenas insistir em uma aplicação pobre, como que um apêndice no final de um longo discurso, pelo contrário, um constante veio de aplicação corria através de todos os seus sermões. ‘Isto é para você, e isto é para você’. Seus ouvintes nunca eram deixados sozinhos.

Outra característica marcante da pregação de Whitefield era o seu singular poder de descrição. Os árabes têm um provérbio que diz: ‘o melhor orador é aquele que pode transformar os ouvidos dos homens em olhos.’ Whitefield parece ter tido uma faculdade peculiar para fazer isto. Ele dramatizava tão plenamente seu assunto, que parecia fazê-lo mover-se e andar diante dos seus olhos. Ele costumava traçar um desenho tão vivo das coisas que estava tratando, que seus ouvintes podiam crer que na verdade as viam e ouviam. ‘Em uma ocasião,’ diz um de seus biógrafos, ‘Lord Chesterfield estava entre seus ouvintes. O grande pregador ao descrever a miserável condição de um pecador não convertido, ilustrou o assunto descrevendo um mendigo cego. A noite estava escura e o caminho perigoso. O pobre mendicante foi abandonado pelo seu cachorro próximo da beira de um precipício, e não tinha nada para ajudá-lo a apalpar seu caminho senão sua bengala. Whitefield empolgou-se tanto com seu assunto e o descreveu com tal poder gráfico, que todo o auditório ficou em total silêncio e sem respirar, como se estivesse vendo os movimentos do pobre velho homem; e finalmente, quando o mendigo estava a ponto de dar o passo fatal que o faria precipitar-se do despenhadeiro para inevitável destruição, Lord Chesterfield correu para salvá-lo exclamando em alta voz, ‘Ele caiu. Ele caiu!’ O nobre Lord tinha sido tão inteiramente arrebatado pelo pregador, que esqueceu-se de que tudo era apenas uma descrição.’

Outra característica dominante da pregação de Whitefield era o seu tremendo fervor. Um homem pobre e sem educação disse que ‘ele pregava como um leão.’ Ele conseguia mostrar ao povo que ele pelo menos cria em tudo que estava dizendo, e que o seu coração, alma, mente, e força, estavam empenhados em fazê-los acreditar nisto também. Os seus sermões não eram como os disparos vespertinos de canhão em Portsmouth, um tipo de descarga formal, disparada continuamente, mas que não perturba ninguém. Eles eram todos cheios de vida e de fogo. Não havia como escapar deles. Dormir era praticamente impossível. Você tinha que ouvir quer gostasse ou não. Havia neles uma santa violência que tomava de assalto a sua atenção. Você seria facilmente conquistado por sua energia antes que tivesse tempo de considerar o que fazer. Isto, podemos estar certos, era um dos segredos do seu sucesso. Nós devemos convencer os homens, de que nós mesmos somos sinceros, se quisermos ser acreditados. A diferença entre um pregador e outro, freqüentemente não está tanto nas coisas que são ditas, quanto no modo como são ditas.

Foi registrado por um de seus biógrafos que um senhor americano foi ouvi-lo, pela primeira vez, em conseqüência de um relato que ouvira dos seus poderes de pregação. O dia estava chuvoso, a congregação comparativamente pequena e o início do sermão um tanto quanto pesado. Nosso amigo americano começou a dizer a si mesmo: ‘Este homem não é nenhum grande prodígio, afinal de contas’. Ele olhou ao redor e percebeu a congregação tão pouco interessada quanto ele mesmo. Um homem de idade, em frente do púlpito, havia adormecido. Mas subitamente, Whitefield interrompeu. Sua expressão mudou. E então exclamou subitamente em um tom alterado: ‘Se eu tivesse vindo falar a vocês em meu próprio nome, bem que vocês poderiam descansar seus cotovelos em seus joelhos, e suas cabeças nas mãos e dormir; e apenas olharem aqui e ali, dizendo:do que este tagarela está falando? Mas eu não vim em meu próprio nome. Não! Eu vim em nome do Senhor dos Exércitos!’ (então ele baixou as mãos e os pés com tanta força que fez com que o prédio tremesse), ‘E eu preciso ser ouvido.’ A congregação assustou-se. O homem de idade logo acordou. ‘Ah, Ah.” Gritou Whitefield fixando nele os olhos, ‘eu o acordei, não foi? Era exatamente o que eu tencionava. Eu não vim aqui para pregar a troncos e pedras: eu vim a vocês em nome do Senhor dos Exércitos e preciso e terei uma audiência.’ Os ouvintes foram rapidamente arrancados de sua apatia. Cada palavra do sermão a partir daí foi ouvida com profunda atenção, e o senhor americano nunca mais esqueceu o episódio.

Outra característica da pregação de Whitefield que merece uma nota especial era a enorme carga de emoção e sentimentos que continha. Não era coisa incomum para ele chorar profusamente no púlpito. Cornelius Winter, que freqüentemente o acompanhou em suas últimas jornadas, foi tão longe ao ponto de dizer que dificilmente o presenciara terminar um sermão sem algumas lágrimas. Mas, não parece ter havido nada de fingimento nisto. Ele se emocionava intensamente pelas almas diante dele e seus sentimentos encontravam uma saída nas lágrimas. De todos os ingredientes do seu sucesso, nenhum, eu suspeito, foi tão poderoso como este. Isto despertava afeições e tocava fontes secretas nos homens, as quais nenhuma argumentação e demonstração poderiam mover. Isto suavizava os preconceitos que muitos haviam concebido contra ele. Eles não podiam odiar o homem que chorava tanto por suas almas. ‘Eu vim ouvi-lo,’ alguém disse a ele, ‘com os meus bolsos cheios de pedras, com a intenção de quebrar a sua cabeça; mas o seu sermão alcançou o melhor de mim e quebrou o meu coração.’ Uma vez que alguém se torne convencido de que um homem o ama, este ouvirá alegremente o que ele tem a dizer.

Eu agora pedirei ao leitor que acrescente a esta análise da pregação de Whitefield o fato de que até por natureza ele possuía vários dos dons mais raros, os quais habilitam um homem a ser um orador. Seus gestos eram perfeitos - tão perfeitos que até mesmo Garrick, o famoso ator, o louvava sobremaneira. Sua voz era tão poderosa quanto seus gestos - tão poderosa que ele podia fazer com que trinta mil pessoas o ouvissem de uma vez, e ainda assim tão musical e bem entoada que alguns diziam que ele podia arrancar lágrimas pelo modo como pronunciava a palavra ‘Mesopotâmia’. Sua postura no púlpito era tão curiosamente graciosa e fascinante que era dito que as pessoas que o ouviam, em cinco minutos estavam esquecidas de que ele era vesgo. Sua fluência e domínio de uma linguagem apropriada eram da mais alta ordem, inspirando-o sempre a usar a palavra certa e a colocá-la no correto lugar. Acrescente, eu repito, estes dons às coisas já mencionadas e então considere se não há o suficiente em nossas mãos para explicar seu poder e popularidade como pregador.

Da minha parte, não hesito em dizer que acredito que nenhum pregador inglês jamais possuiu tal combinação de excelentes qualificações como Whitefield. Alguns, sem dúvida, o superaram em alguns dos seus dons; outros, talvez, o igualaram em outros. Mas, quanto a uma combinação bem balanceada de alguns dos mais finos dons que um pregador possa ter, unidos a uma voz, postura, estilo, gestos e domínio de palavras, Whitefield, eu repito minha opinião, está sozinho. Eu acredito que nenhum outro pregador inglês, morto ou vivo, jamais o igualou. E eu suspeito que sempre descobriremos que exatamente na proporção em que um pregador se aproxima dessa curiosa combinação de raros dons os quais Whitefield possuía, exatamente nesta proporção eles obtém o que Clarendon define ser a verdadeira eloqüência - ‘um estranho poder de se fazer acreditar.’

A vida íntima e o caráter pessoal desse grande herói espiritual do século passado são um ramo do meu assunto no qual não me demorarei. De fato, não há necessidade para fazer isso. Ele era um homem singularmente transparente. Não havia nada sobre ele que requeresse apologia ou explicação. Suas faltas e boas qualidades eram ambas claras e evidentes como o meio-dia. Portanto, eu me contentarei em simplesmente destacar as características proeminentes do seu caráter até onde for possível serem deduzidas de suas cartas e dos relatos dos seus contemporâneos, e então trazer meu esboço dele a uma conclusão.

Ele era um homem de profunda e sincera humildade. Ninguém pode ler as suas mil e quatrocentas cartas, publicadas pelo Doutor Gillies sem observar isto. Repetidas vezes, no próprio apogeu de sua popularidade, nós o encontramos falando de si mesmo e do seu trabalho nos termos mais baixos. ‘Deus, tem misericórdia de mim, um pecador’, ele escreve em 11 de setembro de 1753, ‘e dá-me, por amor da Tua infinita misericórdia, um coração humilde, agradecido e resignado. Eu sou verdadeiramente mais vil do que o mais vil dos homens, e fico espantado de usares tal miserável como eu’. ‘Que nenhum dos meus amigos,’ ele escreve em 27 de dezembro de 1753, ‘clame a tal verme indolente, morno e inútil: poupa-te a ti mesmo. Ao invés disso, estimulem-me, eu suplico, dizendo: acorda, dorminhoco, e começa a fazer alguma coisa para o teu Deus.’ Linguagem como esta, sem dúvida, parece tolice e fingimento para o mundo; mas o leitor da Bíblia bem instruído verá nela a experiência do coração de todos os santos mais brilhantes. E a linguagem de homens como Baxter, Brainerd e M’Cheyne. E a mesma inclinação que havia no inspirado Apóstolo Paulo. Aqueles que têm mais luz e graça são sempre os homens mais humildes.

Ele era um homem de ardente amor por nosso Senhor Jesus Cristo. Este nome que está ‘acima de todo nome’ destaca-se incessantemente em toda a sua correspondência. Como um ungüento perfumado, ele dá um aroma a todas as suas cartas. Ele parece nunca cansar de dizer alguma coisa a respeito de Jesus. ‘Meu Mestre’ como George Herbert dizia, nunca fica fora de sua mente. Seu amor, Sua expiação, Seu sangue precioso, Sua justiça, Sua prontidão em receber pecadores, Sua paciência e maneira meiga de lidar com os santos, são temas que aparecem sempre frescos diante de seus olhos. Pelo menos neste aspecto, há uma curiosa semelhança entre ele e aquele glorioso teólogo escocês, Samuel Rutherford.

Ele era um homem de incansável diligência e labor no que diz respeito nos negócios de seu Mestre. Seria difícil talvez, encontrar alguém nos anais da Igreja que trabalhou tão duro por Cristo e se gastou tão plenamente em seu serviço. Henry Venn, no sermão fúnebre em sua lembrança, pregado em Bath, deu o seguinte testemunho, ‘Que sinal e prodígio foi este homem de Deus, no que diz respeito à imensidão dos seus labores! Alguém não pode senão ficar espantado que a sua estrutura mortal pudesse, pelo espaço de quase trinta anos, sem interrupção, sustentar o peso deles; pois o que é mais fatigante á estrutura humana, especialmente na juventude, do que um esforço longo, contínuo, freqüente e violento dos pulmões? Quem que conheça sua estrutura pensaria ser possível que uma pessoa pouco acima da idade adulta, pudesse falar em uma simples semana, e isto durante anos - em geral quarenta horas, e em muitas semanas, sessenta - e isto para milhares de pessoas; e após seus labores, ao invés de descansar, poderia elevar orações e intercessões, com hinos e cânticos espirituais, como costumava fazer, em cada casa à qual era convidado? A verdade é que, no que diz respeito ao labor, este extraordinário servo de Deus fez em algumas semanas tanto quanto a maioria daqueles que, embora se esforçando, consegue fazer no espaço de um ano.

Ele foi até o fim, um homem de eminente auto-negação. Seu estilo de vida era o mais simples. Ele foi notadamente um exemplo típico de moderação no comer e beber. Durante toda a sua vida, ele acordava muito cedo. Sua hora habitual de levantar-se era às quatro horas, tanto no verão como no inverno; e era igualmente pontual na hora de recolher-se, cerca de dez horas da noite. Um homem de oração, ele freqüentemente gastava noites inteiras em leitura e devoção. Cornelius Winter, que freqüentemente dormia no mesmo quarto, diz que ele às vezes levantava durante a noite com este propósito. Ele ligava muito pouco para dinheiro, exceto como uma ajuda para a causa de Cristo, e o recusava, quando lhe era oferecido para seu próprio uso. Uma vez recusou a importância de sete mil libras. Ele não acumulou fortuna nem estabeleceu uma próspera família. O pouco dinheiro que ele deixou ao morrer provinha inteiramente de doações de amigos. O comentário vulgar que o Papa fez a respeito de Lutero, ‘este animal alemão não ama o ouro’, poderia bem ter sido aplicado a Whitefield.

Ele era um homem de notável desinteresse e simplicidade. Ele parecia viver apenas para dois objetivos: a glória de Deus e a salvação de almas. Ele não tinha objetivos secundários ocultos. Ele não levantou nenhum grupo de seguidores que tomassem seu nome. Ele não estabeleceu nenhum sistema denominacional que adotasse seus próprios escritos como elementos cardinais. Uma expressão sua é bem característica do homem: ‘Que o nome de George Whitefield pereça contanto que Cristo seja exaltado’.

Ele era um homem de um espírito singularmente feliz e alegre. Ninguém que o visse poderia jamais duvidar que ele se deleitava na sua religião. Perseguido que foi de muitas maneiras por todo o seu ministério - caluniado por alguns, desprezado por outros, deturpado por falsos irmãos, sofrendo oposição em todo lugar pelo clero ignorante do seu tempo, preocupado por incessante controvérsia - sua flexibilidade nunca falhou. Ele era um cristão eminentemente alegre, cuja própria conduta recomendava a obra de seu Mestre. Uma venerável senhora de New York, após sua morte, ao falar das influências através das quais o Espírito ganhou seu coração para Deus, usou estas notáveis palavras: ‘O Senhor Whitefield era tão feliz que isso me provocou a tornar-me uma cristã.’

Finalmente, mas não menos importante, ele era um homem de extraordinária caridade, catolicidade e liberalidade na sua religião. Ele nada conhecia daquele sentimento tacanho que faz com que alguns homens imaginem que tudo tem que ser estéril, fora de seus próprios campos, e que sua própria denominação tem um completo monopólio da verdade e do Céu. Ele amava todos os que amavam o Senhor Jesus com sinceridade. Ele media a todos com a medida que os anjos usam, ‘professam eles arrependimento para com Deus, fé no nosso Senhor Jesus Cristo e santidade de vida?’ Se sim, eles eram seus irmãos. Sua alma ligava-se com estes homens, qualquer que fosse o nome com que fossem chamados. Diferenças menores eram madeira, palha e restolho para ele. As marcas do Senhor Jesus eram as únicas marcas que lhe interessavam. Essa catolicidade era mais notável quando o espírito dos tempos em que viveu é considerado. Até mesmo os Erskines, na Escócia, queriam que ele não pregasse em nenhuma outra denominação que não a deles - isto é, a Igreja da Cessessão. Ele perguntou: ‘Por que somente para eles?’ - E recebeu a incrível resposta que ‘eles eram o povo do Senhor.’ Isto foi mais do que Whitefield podia suportar. Ele disse: ‘Se não há nenhum outro povo de Deus senão eles, se todos os outros são povo do diabo, eles certamente têm mais necessidade de pregação;’ E ele finalizou informando-os de que ‘se o próprio Papa lhe cedesse seu púlpito, ele proclamaria alegremente nele a justiça de Cristo.’ A esta catolicidade de espírito ele aderiu todos os seus dias. Se outros cristãos o deturpassem, ele os perdoava, e se recusassem trabalhar com ele, ainda assim ele os amava. Nada pode ser um testemunho mais valioso contra a intolerância do que o seu pedido, feito pouco antes da sua morte que, quando morresse, John Wesley fosse convidado para pregar no seu enterro. Wesley e ele há muito não concordavam sobre pontos calvinistas; mas Whitefield, até o fim, estava determinado a esquecer as diferenças superficiais, e a considerar Wesley como Calvino considerou Lutero: ‘Simplesmente um bom servo de Jesus Cristo.’ Em outra ocasião um severo professor de religião lhe perguntou ‘se ele pensava que veria John Wesley no céu?’ ‘Não, senhor,’ foi a sua extraordinária resposta; ‘eu temo que não. Ele estará tão próximo do trono, e nós tão distantes, que dificilmente o veremos’.

Longe de mim dizer que o assunto deste capítulo foi um homem sem faltas. Como todos os santos de Deus, ele foi uma criatura imperfeita. Ele às vezes errava nos seus julgamentos. Ele freqüentemente tirava conclusões precipitadas sobre a providência divina, e se enganava, tomando as suas próprias inclinações como sendo direção de Deus. Ele era freqüentemente apressado, tanto com sua língua como com sua pena. Ele não hesitava em dizer que o ‘Arcebispo Tillotson não sabia mais do Evangelho do que Maomé.’ Ele errava em distinguir algumas pessoas como inimigas do Senhor e outras como amigas do Senhor tão precipitada e positivamente como às vezes fazia. Era censurável sua atitude de denunciar muitos ministros como ‘fariseus,’ porque não aceitavam a doutrina do novo nascimento. Mas ainda assim, apesar de tudo que foi dito, não pode haver dúvida de que, no geral, ele era um homem eminentemente santo, que se auto-negava, e consistente. ‘As faltas do seu caráter,’ diz um escritor americano - ‘eram como pontos no sol, detectadas sem muita dificuldade por qualquer observador moderado e cuidadoso que se esforce em procurá-las, mas, para todo propósito prático, são pontos perdidos numa efulgência geral e afável’. Quão bom seria para as igrejas dos nossos dias, se Deus lhes desse mais ministros como o grande evangelista da Inglaterra de cem anos atrás!

Apenas nos resta dizer que aqueles que desejarem conhecer mais a respeito de Whitefield fariam bem em ler com atenção os sete volumes de suas cartas e outras publicações, que o Dr. Gillies editou em 1770. Eu estaria muito enganado se quem fizer isso não for agradavelmente surpreendido com o seu conteúdo. E motivo de espanto para mim que, dentre tantas reimpressões no século dezenove, nenhum publicador tenha tentado reimprimir totalmente as obras de George Whitefield.
Um pequeno trecho da conclusão de um sermão pregado por Whitefield em Kennington Common, pode ser interessante para alguns leitores, e pode servir para dar-lhes uma pálida idéia do estilo do grande pregador. Foi um sermão baseado no texto, ‘Que pensais vós do Cristo?’ (Mt. 22:42).
‘Ó meus irmãos, meu coração está dilatado para vocês. Eu confio que sinto alguma coisa daquela escondida mas poderosa presença de Cristo enquanto estou pregando a vocês. Sim, ela é doce - ela é extraordinariamente reconfortante. Todo o mal que eu desejo a vocês que sem razão são meus inimigos, é que sintam o que estou sentindo. Acreditem-me, embora fosse um inferno para minha alma retornar ao estado natural novamente, ainda assim, eu desejaria trocar de estado com vocês por um tempo, a fim de que vocês pudessem conhecer o que é ter Cristo habitando em seus corações pela fé. Não voltem suas costas. Não deixem que o diabo os faça sair correndo. Não temam a convicção de pecados. Não pensem mal das doutrinas porque pregadas fora das paredes da igreja. Nosso Senhor, nos dias de Sua carne, pregou em um monte, em um barco, em um campo, e eu estou persuadido que muitos têm sentido aqui a Sua graciosa presença. A verdade é que nós falamos do que conhecemos. Portanto, não rejeitem o reino de Deus, para o mal de si próprios. Sejam sábios e recebam o nosso testemunho.

‘Eu não posso, e não permitirei que partam. Permaneçam um pouco, e ponderemos juntos. Por mais levianamente que vocês estimem suas almas, eu sei que o nosso Senhor coloca nelas um valor indizível. Ele as considerou dignas de Seu preciosíssimo sangue. Eu rogo a vocês, portanto, ó pecadores, que se reconciliem com Deus. Eu espero que vocês não temam ser aceitos no Amado. Eis que Ele chama vocês. Eis, Ele toma a dianteira e segue vocês com sua misericórdia, e enviou Seus servos às ruas e becos para compeli-los a entrar.

‘Lembrem-se, portanto, que nesta hora deste dia, neste ano, neste lugar, foi dito a todos o que deveriam pensar a respeito de Jesus Cristo. Se vocês perecerem agora, não será por falta de conhecimento. Eu estou livre do sangue de todos vocês. Vocês não podem dizer que eu tenho pregado condenação. Não podem dizer que eu tenho, como os pregadores legalistas, requerido que vocês façam tijolos sem palha. Eu não tenho ordenado que vocês se façam a si mesmos santos e então venham a Deus. Eu tenho oferecido a salvação a vocês nos termos mais fáceis que possam desejar. Eu tenho oferecido toda a sabedoria de Cristo, toda a justiça de Cristo, toda a santificação e eterna redenção de Cristo, se vocês apenas crerem nEle. Se você disser que não pode crer, diz certo; pois a fé, assim como todas as outras bênçãos, é dom de Deus. Mas então espere em Deus, e quem sabe se Ele não terá misericórdia de você’.
‘Por que não nutrimos mais pensamentos amorosos a respeito de Cristo? Você pensa que Ele terá misericórdia de outros e não de você? Você não é pecador? Cristo não veio a este mundo para salvar os pecadores?’

‘Se você disser que é o maior dos pecadores, eu replico que isso não será impedimento para a sua salvação. De fato não será, se você, pela fé se apegar a Cristo. Leia os Evangelhos e veja quão amavelmente Ele se comportava para com os seus discípulos, os quais O abandonaram e negaram. ‘Vão, digam aos meus irmãos’, diz Ele. Ele não diz, ‘vão digam àqueles traidores,’ mas, ‘vão, digam aos meus irmãos e a Pedro’. E como se Ele houvesse dito, ‘Vão, digam aos meus irmãos em geral, e a Pedro em particular, que eu ressuscitei. Oh, confortem seu coração abatido. Digam-lhe que eu estou reconciliado com ele. Ordenem que ele não chore mais tão amargamente. Porque apesar de ter Me negado três vezes com juras e imprecações, ainda assim Eu morri pelos seus pecados; Eu ressuscitei novamente para sua justificação: Eu gratuitamente perdoei tudo.’ Assim, lento para irar-Se e de grande benignidade, foi nosso todo misericordioso Sumo Sacerdote. E você pensa que Ele mudou Sua natureza e esqueceu-Se dos pobres pecadores, agora que foi exaltado à direita de Deus? Não! Ele é o mesmo ontem, hoje e para sempre; e assentou-Se ali apenas para interceder por nós’.
‘Venham, portanto, vocês prostitutas; venham, vocês publicanos; venham, vocês pecadores abandonados, venham e creiam em Jesus Cristo. Embora o mundo inteiro os despreze e os expulse, ainda assim Ele não desdenhará tomá-los para Si. Oh, que amor surpreendente, que amor condescendente! Mesmo vocês, ele não se envergonhará de chamar Seus irmãos. Como escaparão vocês se negligenciarem tal oferta gloriosa de salvação? O que não dariam os espíritos condenados agora nas prisões do inferno, se Cristo lhes fosse tão graciosamente oferecido? E por que não estamos erguendo nossos olhos em tormentos? Qualquer pessoa entre esta grande multidão ousa dizer que não merece condenação? Por que somos deixados, enquanto outros são tomados pela morte? O que é isto senão um exemplo da livre graça de Deus, e um sinal da Sua boa vontade para conosco? Deixemos que a bondade de Deus nos guie ao arrependimento. Oh, haja alegria nos Céus, por alguns de vocês que se arrependam!’

Traduzido por Paulo R. B. Anglada, a partir de J. C. Ryle, Christian Leaders of 18th. Century (reprint, Edinburgh and Pennsylvania: The Banner of Truth Trust, 1978), 149-79. Revisado por Cláudio Vilhena e Emir Bemerguy Filho.

quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

Seis Componentes do Arrependimento - Thomas Watson

Imagem cedida por: http://amo-christum.blogspot.com


Nascido em 1620, Thomas Watson estudou em Cambridge (Inglaterra). Em 1646, iniciou um pastorado de dezesseis anos em Londres. Entre suas principais obras, estão o seu famoso Body of Pratical Divinity (Compêndio de Teologia Prática), publicado postumamente em 1692.

O arrependimento é uma graça do Espírito de Deus por meio da qual um pecador é humilhado em seu íntimo e transformado em seu exterior. A fim de proporcionar melhor entendimento, saiba que o arrependimento é um remédio espiritual formado de seis componentes especiais... Se um for deixado fora, o arrependimento perde o seu poder.

Componente 1: Percepção do pecado. A primeira parte do remédio de Cristo são olhos abertos (At 26.18). Este é um dos fatos importantes a observarmos no arrependimento do filho pródigo: ele caiu em si (Lc 15.17). Ele se viu como pecador e nada mais do que um pecador. Antes que um homem venha a Cristo, ele tem primeiramente de vir a si mesmo. Em sua descrição de arrependimento, Salomão considerou isto como o primeiro componente: “Caírem em si” (1 Rs 8.47). Uma pessoa deve, antes de tudo, reconhecer e considerar o que é o seu pecado e conhecer a praga de seu coração, antes que seja devidamente humilhado por ela. A primeira coisa que Deus criou foi a luz. Portanto, a primeira coisa que deve haver em uma pessoa arrependida é a iluminação. “Agora, sois luz no Senhor” (Ef 5.8). Os olhos são feitos tanto para ver como para chorar. Antes de lamentarmos pelo pecado, temos de vê-lo. Disso, podemos inferir que, onde não percepção do pecado, não pode haver arrependimento. Muitos que acham falhas nos outros não vêem nenhum erro em si mesmos... Pessoas são vendadas por ignorância e amor próprio. Por isso, não vêem o que deforma a sua alma. O Diabo faz com elas como o falcoeiro faz à sua ave: ele as cega e as leva encapuzadas ao inferno.

Componente 2: Tristeza pelo pecado. “Suporto tristeza por causa do meu pecado” (Sl 38.18). Ambrósio chamava essa tristeza de amargura da alma. A palavra hebraica que se traduz por ficar triste significa “ter a alma, por assim dizer, crucificada”. Isso precisa estar presente no verdadeiro arrependimento. “Olharão para aquele a quem traspassaram... e chorarão” (Zc 12.10), como se sentissem os cravos da cruz penetrando o seu lado. Uma mulher pode esperar ter um filho sem dores, assim como alguém pode esperar arrepender-se sem tristeza. Aquele que crê sem duvidar, põe sob suspeita a sua fé; aquele que se arrepende sem entristecer-se nos deixa incertos de seu arrependimento... Esta tristeza pelo pecado não é superficial; é uma agonia santa. Nas Escrituras, ela é chamada de quebrantamento de coração: “Sacrifícios agradáveis a Deus são o espírito quebrantado; coração compungido e contrito, não o desprezarás, ó Deus” (Sl 51.17); um rasgamento do coração: “Rasgai o vosso coração” (Jl 2.13). As expressões bater no peito (Jr 31.19; Lc 18.13), cingir o cilício (Is 22.12), arrancar os cabelos (Ed 9.3) — todas essas expressões são apenas sinais exteriores de tristeza.

Essa tristeza implica (1) tornar a Cristo precioso. Oh! quão precioso é o Salvador para uma alma atribulada! Agora, Cristo é, de fato, Cristo; e a misericórdia é realmente misericórdia. Enquanto o coração não estiver repleto de compunção, ele não estará pronto para o arrependimento. Quão bem-vindo é um cirurgião para um homem que sangra por suas feridas! (2) Implica repelir o pecado. O pecado gera tristeza, e a tristeza mata o pecado... A água salgada das lágrimas mata o verme da consciência. (3) Implica preparar-se para receber firme consolo. “Os que com lágrimas semeiam com júbilo ceifarão” (Sl 126.5). O penitente tem uma semeadura de lágrimas, mas uma colheita deliciosa. O arrependimento rompe os abscessos do pecado, e, em seguida, a alma fica tranqüila... O ato de Deus em afligir a alma por causa do pecado é como o agitar da água que trazia cura, no tanque (Jo 5.4) 

Contudo, nem toda tristeza evidencia o verdadeiro arrependimento... o que é esse entristecer piedoso? Há seis descrições:

1. A verdadeira tristeza espiritual é interior. É interior em duas maneiras: (1) é uma tristeza de coração. A tristeza dos hipócritas evidencia-se somente em sua face. “Desfiguram o rosto” (Mt 6.16). Mostram um rosto melancólico, mas a tristeza deles não vai além disso, como o orvalho que umedece a folha, mas não penetra a raiz. O arrependimento de Acabe foi uma exibição exterior. Seus vestidos foram rasgados, mas não o seu espírito (1 Rs 21.27). A tristeza segundo Deus avança mais além; é como uma veia que sangra internamente. O coração sangra por causa do pecado — “Compungiu-se-lhes o coração” (At 2.37). Assim como o coração tem a parte principal no ato de pecar, o mesmo deve acontecer no caso do entristecer-se. Paulo lamentava por causa da lei em seus membros (Rm 7.23). Aquele que lamenta verdadeiramente o pecado se entristece por conta das incitações do orgulho e da concupiscência. Ele se entristece por causa da “raiz de amargura”, embora ela nunca prospere até ao ponto de levá-lo a agir. Um homem ímpio pode sentir-se atribulado por pecados escandalosos; um verdadeiro convertido lamenta os pecados do coração.

2. A tristeza espiritual é sincera. É a tristeza pela ofensa, e não pela punição. A lei de Deus foi infringida, e seu amor, abusado. Isso leva a alma às lágrimas. Uma pessoa pode ficar triste e não se arrepender. Um ladrão fica triste quando é apanhado, mas não por causa do roubo, e sim porque tem de sofrer a pena... A tristeza piedosa se expressa principalmente por causa da transgressão contra Deus. Portanto, se não houvesse uma consciência a ferir, uma diabo a acusar, um inferno para servir de castigo, a alma ainda se sentiria triste por causa da ofensa praticada contra Deus... Oh! que eu não ofenda o meu bom Deus, nem entristeça o meu Consolador! Isso parte o meu coração!...

3. A tristeza espiritual Deus é repleta de confiança. É mesclada com fé... A tristeza bíblica afundará o coração, se a roldana da fé não o erguer. Assim como o nosso pecado está sempre diante de Deus, assim também a promessa de Deus tem de estar sempre diante de nós...

4. A tristeza espiritual é uma grande tristeza. “Naquele dia, será grande o pranto em Jerusalém, como o pranto de Hadade-Rimom” (Zc 12.11). Dois sóis se puserem no dia em que Josias morreu, e houve um enorme lamento fúnebre. A tristeza pelo pecado deve chegar a esse nível.

5. A tristeza espiritual é, em alguns casos, acompanhada de restituição. Aquele que, por injustiça, errou contra outrem, em seus bens, lidando com fraude, deve em sã consciência realizar a compensação. Há um mandamento claro quanto a isso: “Confessará o pecado que cometer; e, pela culpa, fará plena restituição, e lhe acrescentará a sua quinta parte, e dará tudo àquele contra quem se fez culpado” (Nm 5.7). Por isso, Zaqueu fez restituição: “Se nalguma coisa tenho defraudado alguém, restituo quatro vezes mais” (Lc 19.8).

6. A tristeza espiritual é permanente. Não são algumas lágrimas derramadas ocasionalmente que servirão. Alguns derramarão lágrimas ao ouvirem um sermão, mas isso é como uma chuva de abril — logo acaba — ou como uma veia aberta e fechada novamente. A verdadeira tristeza tem de ser habitual. Ó cristão, a doença de sua alma é crônica, e a recaída, freqüente. Portanto, você tem de tratar-se com remédio continuamente, por meio do arrependimento. Essa é a tristeza “segundo Deus”.

Componente 3: Confissão de pecado. A tristeza é um sentimento tão forte, que terá expressões. Suas expressões são lágrimas nos olhos e confissão nos lábios. “Os da linhagem de Israel... puseram-se em pé e fizeram confissão dos seus pecados” (Ne 9.2). Gregório de Nazianzo chamou a confissão de “um bálsamo para a alma ferida”.

A confissão é auto-acusadora. “Eu é que pequei” (2 Sm 24.17)... E a verdade é que por meio desta auto-acusação impedimos Satanás de acusar-nos. Em nossas confissões, nos identificamos com orgulho, infidelidade e paixão. Assim, quando Satanás, chamado de acusador dos irmãos, lançar essas coisas contra nós, Deus lhe replicará: “Eles já acusaram a si mesmos. Então, Satanás, você está destituído de motivos legítimos; suas acusações surgiram muito tarde...” Agora, ouça o que diz o apóstolo Paulo: “Se nos julgássemos a nós mesmos, não seríamos julgados” (1 Co 11.31).

Entretanto, homens ímpios, como Judas e Saul, não confessaram seus pecados? Sim, mas as suas confissões não eram verdadeiras. Para que a confissão de pecado seja correta e genuína, estas... qualificações precisam estar presentes:

1. A confissão tem de ser espontânea. Tem de surgir como a água que brota do manancial, livremente. A confissão do ímpios é obtida à força, como a confissão de um homem sob tortura. Quando uma faísca da ira de Deus atinge a consciência dos ímpios ou estão sob o temor da morte, eles se prostrarão em confissão... Mas a verdadeira confissão flui dos lábios tal como a mirra jorra da árvore ou o mel da colméia, espontaneamente...

2. A confissão tem ocorrer com contrição. O coração precisa ressentir profundamente o pecado. As confissões de um homem natural procede de seu íntimo assim como uma água que passa por um cano. Elas não o afetam de maneira alguma. Mas a confissão verdadeira deixa impressões que pungem o coração. Ao confessar seus pecados, a alma de Davi sentiu-se sobrecarregada: “Já se elevam acima de minha cabeça as minhas iniqüidades; como fardos pesados, excedem as minhas forças” (Sl 38.4). Uma coisa é confessar o pecado, outra coisa é sentir o pecado.

3. A confissão tem de ser sincera. Nosso coração precisa estar em harmonia com a confissão. O hipócrita confessa o pecado, mas o ama, assim como um ladrão que confessa os bens roubados e continua a amar o roubo. Quantos confessam o orgulho e a cobiça, com seus lábios, mas se deleitam neles ocultamente... Um verdadeiro cristão é mais honesto. Seu coração anda em harmonia com usa língua. Ele é convencido dos pecados que confessa e detesta os pecados dos quais é convencido.

4. Na confissão verdadeira, o crente especifica o pecado. O ímpio reconhece que é um pecador como todos os outros. Ele confessa o pecado de maneira geral... Um verdadeiro convertido reconhece seus pecados específicos. Ele se comporta à semelhança de uma pessoa enferma que vai ao médico e lhe mostra as feridas, dizendo: “Levei um corte na cabeça, recebi um tiro no braço”. O pecador entristecido confessa as diversas imperfeições de sua alma... Por meio de uma inspeção diligente de nosso coração, podemos achar alguns pecados específicos que tratamos com indulgência. Confessemos com lágrimas esses pecados, indicando-os pelo nome.

5. Um pessoa verdadeiramente arrependida confessa o pecado em sua fonte. Ela reconhece a contaminação de sua natureza. O pecado de nossa natureza não é somente uma falta do bem, mas também uma infusão do mal... Nossa natureza é um abismo e uma fonte de todo mal, dos quais procedem os escândalos que infestam o mundo. É essa depravação de natureza que envenena nossas coisas santas. Isso traz os juízos de Deus e paralisa em sua origem as nossas misericórdias. Oh! Confesse o pecado em sua fonte!...

Componente 4: Vergonha pelo pecado. O quarto componente no arrependimento é a vergonha. “Para que... se envergonhe das suas iniqüidades” (Ez 43.10). O envergonhar-se é a força da virtude. Quando o coração se enegrece por causa do pecado, a graça faz o rosto envergonhar-se com rubor — “Estou confuso e envergonhado, para levantar a ti a face” (Ed 9.6). O filho pródigo, arrependido, ficou tão envergonhado de seus excessos que se julgava indigno de ser, outra vez, chamado filho (Lc 15.21). O arrependimento causa um acanhamento santo. Se Cristo não estivesse no coração do pecador, não haveria tanta vergonha se expressando no rosto. Há... algumas considerações sobre o pecado que nos causa vergonha:

1. Todo pecado nos torna culpados, e a culpa nos deixa envergonhados.

2. Em todo pecado, há muita ingratidão. E essa é a razão da vergonha. Abusar da bondade de Deus, como isso nos envergonha!... Ingratidão é um pecado tão grave, que Deus mesmo se admira dele (Is 1.2).

3. O pecado mostra o que somos, e isso nos causa vergonha. O pecado nos rouba as vestes de santidade. E nos deixa destituídos de pureza, deformados aos olhos de Deus; e isso nos envergonha...

4. Nossos pecados expuseram Cristo à vergonha. E não nos envergonharemos deles? Vestimos a púrpura; não vestiremos o carmesim?

5. Aquilo que nos deixa envergonhados é o fato de que os pecados que cometemos são piores do que os pecados dos incrédulos. Agimos contra a luz que possuímos.

6. Nossos pecados são piores do que os pecados dos demônios. Os anjos caídos nunca pecaram contra o sangue de Cristo. Cristo não morreu por eles... Com certeza, se sobrepujamos o pecado dos demônios, isso deve nos causar muita vergonha.

Componente 5: Ódio pelo pecado. O quinto componente do arrependimento é o ódio pelo pecado. Os eruditos distinguem dois tipos de ódio: o ódio das iniqüidades e o ódio da inimizade.

Primeiramente, há um ódio ou abominação das iniqüidades. “Tereis nojo de vós mesmos por causa das vossas iniqüidades e das vossas abominações” (Ez 36.31). Um cristão verdadeiramente arrependido é alguém que detesta o pecado. Se uma pessoa detesta aquilo que faz seu estômago adoecer, ela deve, com muito mais intensidade, detestar aquilo que deixa enferma a sua consciência. É mais fácil abominar o pecado do que deixá-lo... Não amamos a Cristo enquanto não odiamos o pecado. Nuca anelamos o céu enquanto não detestamos o pecado.

Em segundo, há um ódio da inimizade. Não há melhor maneira de descobrir vida do que por meio do movimento. Os olhos se movem, o pulso bate. Portanto, para constatar o arrependimento, não há sinal melhor do que uma antipatia santa para com o pecado... O arrependimento correto começa no amor a Deus e termina no ódio ao pecado.

Como podemos discernir o verdadeiro ódio para com o pecado?

1. Quando a pessoa se mantém resoluta contra o pecado. A língua lamenta amargamente o pecado, e o coração o odeia, de modo que, embora o pecado se apresente de forma atraente, nós o achamos detestável e o abominados com ódio mortal, sem levarmos em conta a sua aparência agradável... O diabo pode vestir e disfarçar o pecado com prazer e proveito, mas um verdadeiro penitente, que tem ódio secreto pelo pecado, sente repulsa e não se envolverá nele.

2. O verdadeiro ódio pelo pecado é abrangente. Isso se aplica a dois aspectos: no que diz respeito às faculdades e ao objeto. (a) O ódio pelo pecado é abrangente no que concerne às faculdades da alma, ou seja, há um desgosto para com o pecado não somente no juízo, mas também na vontade e nas afeições. Há alguns que são convencidos de que o pecado é maligno e, em seu juízo, têm uma aversão para com ele. Mas acham-no agradável e têm satisfação íntima nele. Nesse caso, há um desprazer do pecado no juízo e um aceitação dele nas afeições. No verdadeiro arrependimento, o ódio pelo pecado está presente em todas as faculdades da alma; não somente no intelecto, mas, principalmente, na vontade. “Não faço o que prefiro, e sim o que detesto” (Rm 7.15). Paulo não era livre do pecado, mas a sua vontade se posicionava contra o pecado. (b) O ódio pelo pecado é abrangente no que concerne ao objeto. Aquele que odeia um pecado odeia todos... Os hipócritas odeiam alguns pecados que mancham sua reputação, mas o verdadeiro convertido odeia todos os pecados: os pecados que produzem vantagem, os pecados resultantes de nossas inclinações naturais, as próprias instigações da corrupção. Paulo odiava as obras do pecado (Rm 7.23).

3. O verdadeiro ódio pelo pecado se manifesta contra o pecado em todas as suas formas. Um coração santo detesta o pecado por causa de sua contaminação natural. O pecado deixa uma mancha na alma. Uma pessoa regenerada aborrece o pecado não somente por causa da maldição, mas também por causa do contágio. Ele odeia essa serpente não somente por causa de sua picada, mas também por causa de seu veneno. Abomina o pecado não somente por causa do inferno, mas como o próprio inferno.

4. O verdadeiro ódio pelo pecado é implacável. O cristão genuíno nunca mais se conciliará com o pecado. A ira pode experimentar conciliação, porém o ódio não pode experimentá-la...

5. Onde há verdadeiro ódio pelo pecado, nos opomos ao pecado em nós mesmos e nos outros. A igreja de Éfeso não podia suportar aqueles que eram maus (Ap 2.2). Paulo repreendeu arduamente Pedro por causa de sua dissimulação, embora este fosse um apóstolo. Com insatisfação santa, Cristo expulsou os cambistas do templo (Jo 2.15). Ele não tolerou que o templo sofresse uma mudança. Neemias repreendeu os nobres por sua usura (Ne 5.7) e pela profanação do sábado (Ne 13.17). Aquele que odeia o pecado não suportará a iniqüidade em sua família — “Não há de ficar em minha casa o que usa de fraude” (Sl 101.7). Que vergonha se manifesta quando os magistrados mostram força de espírito em suas paixões e nenhum heroísmo em suprimir o erro! Aqueles que não tem qualquer antipatia para com o pecado não conhecem o arrependimento. O pecado está neles como o veneno está em uma serpente e, por ser natural, lhe proporciona deleite.

Quão distantes estão do arrependimento aqueles que, ao invés de odiarem o pecado, amam-no! Para os santos, o pecado é um espinho nos olhos; para os ímpios, é uma coroa na cabeça — “Que direito tem na minha casa a minha amada, ela que cometeu vilezas? Acaso, ó amada, votos e carnes sacrificadas poderão afastar de ti o mal? Então, saltarias de prazer” (Jr 11.15). Amar o pecado é pior do que praticá-lo. Um homem bom pode precipitar-se cair em uma atitude pecaminosa, mas amar o pecado é desesperador. O que faz um porco amar o revolver-se na lama? O que faz um demônio amar aquilo que se opõe a Deus? Amar o pecado mostra que a vontade está no pecado; e, quanto mais a vontade estiver no pecado, tanto maior ele será. A obstinação faz com que não haja mais purificação para o pecado (Hb 10.26). Oh! quantos existem que amam o fruto proibido! Amam as imprecações e os adultérios. Amam o pecado e odeiam a repreensão... Portanto, quando os homens amam o pecado, apegam-se àquilo que será a sua morte e brincam com a condenação, isso indica que “o coração dos homens está cheio de maldade” (Ec 9.3). Isso nos persuade a mostrar nosso arrependimento por meio de um ódio amargo para com o pecado...

Componente 6: Converter-se do pecado. O sexto componente no arrependimento é converter-se do pecado... Esse converter-se é chamado de abandonar o pecado (Is 55.7), tal como um homem que abandona a companhia de um ladrão ou de um feiticeiro. É chamado de lançar para longe o pecado (Jó 11.14), como Paulo lançou de si aquela víbora, atirando-a ao fogo (At 28.5). Morrer para o pecado é a vida do arrependimento. No mesmo dia em que o crente se converte do pecado, deve se regozijar com um gozo eterno. Os olhos devem fugir de vislumbres impuros. O ouvido tem de fugir dos escárnios. A língua, do praguejamento. As mãos, dos subornos. Os pés, dos caminho das meretrizes. E alma, do amor à impiedade.

Esse converter-se do pecado implica uma mudança notável. Converter-se do pecado é tão visível, que os outros podem percebê-lo. Por isso, é chamado de uma mudança das trevas para a luz (Ef 5.8). Paulo, depois de ter recebido a visão celestial, ficou tão diferente, que todos se admiraram da mudança (At 9.12). O arrependimento transformou o carcereiro em um enfermeiro e médico (At 16.33). Ele cuidou dos apóstolos, lavou-lhes as feridas e serviu-lhes comida. Um navio se dirige ao leste; e o vento muda seu rumo para o oeste. De modo semelhante, um homem se encaminhava para o inferno, mas o vento contrário do Espírito soprou, mudou o seu rumo e o fez andar em direção ao céu... Essa mudança visível que o arrependimento produz em uma pessoa é como se outra alma se abrigasse no mesmo corpo.

Para identifica corretamente o converter-se do pecado, essas poucas coisas são necessárias:

1. Tem de haver um volver-se sinceramente do pecado. O coração é o primum vivens, a primeira coisa que vive. E tem de ser o primum vertens, a primeira coisa que se volve. O coração é aquilo por que o Diabo se empenha arduamente... No cristianismo, o coração é tudo. Se o coração não é convertido do pecado, ele não passa de uma mentira... Deus quer todo o coração convertido do pecado. O verdadeiro arrependimento não pode ter reservas nem outros ocupantes.

2. Tem de haver um volver-se de todo pecado. “Deixe o perverso o seu caminho” (Is 55.7). Uma pessoa verdadeiramente arrependida abandona o caminho do pecado. Ela deixa todo pecado... Aquele que esconde um subversivo em sua casa é um traidor da nação. E aquele que satisfaz um pecado é um hipócrita traiçoeiro.

3. Tem de haver um volver-se do pecado por motivos espirituais. Um homem pode restringir seus atos de pecados e não converter-se do pecado da maneira correta. Atos de pecados podem ser restringidos por temor ou desígnio, mas uma pessoa verdadeiramente arrependida deixa o pecado com base em um princípio espiritual, ou seja, o amor de Deus... Três homens perguntaram um ao outro o que os fizera abandonar o pecado. Um disse: “Acho que são as alegrias do céu”. Outro respondeu: “Acho que são os tormentos do inferno”. Mas o terceiro disse: “Acho que é o amor de Deus; e isso ainda me faz abandonar o pecado. Como eu ofenderia o amor de Deus?”

Extraído de The Doctrine of Repetance, reimpresso por The Banner of Truth Trust.
FONTE: www.editorafiel.com.br

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