domingo, 25 de março de 2012

Capa Piedosa para a Preguiça Espiritual – J. C. Ryle (1816-1900)

Imagem cedida por: http://jjmagalhaesgomes.blogspot.com.br 


O grande teólogo do passado, João Owen, deão da Igreja de Cristo, costumava dizer, há mais de duzentos anos passados, que há indivíduos cuja inteira religião parece consistir em queixar-se de suas próprias corrupções, dizendo a todos que nada podem fazer pessoalmente para descontinuá-las.

Temo que após dois séculos, a mesma coisa possa ser dita, com toda a verdade, a respeito de alguns que hoje se professam parte do povo de Cristo. Sei que há textos nas Escrituras que dão respaldo a essas queixas. Não faço objeção a elas, quando parte de pessoas que andam nos passos do apóstolo Paulo, que combatem o bom combate à semelhança dele, lutando contra o pecado, o diabo e o mundo. Porém, nunca aprecio tais queixas quando vejo motivos para suspeitar, conforme com frequência o percebo, que elas são apenas uma capa para encobrir a preguiça espiritual, são apenas desculpas para a frouxidão espiritual.

Se tivermos de dizer juntamente com o apóstolo: "Desventurado homem que sou!", também deveremos ser capazes de dizer, juntamente com ele: "...prossigo para o alvo..!' Não queiramos citar o seu exemplo quanto a um aspecto, ao mesmo tempo em que não o seguimos em outro (ver Rm. 7:24 e Fp. 3:14).

Não quero me colocar como melhor do que outras pessoas. E, se alguém indagar de mim: "O que você pensa que é para escrever dessa maneira?", a minha resposta será: "Sou uma criatura realmente muito miserável". Porém, afirmo que não posso ler a Bíblia sem desejar poder ver muitos crentes mais espirituais do que são, mais santos, mais singelos, mais dotados de mente celestial, mais resolutos de coração do que eles são neste nosso século.

Gostaria de ver entre os crentes um pouco mais do espírito próprio dos peregrinos, uma separação mais decidida do mundo, uma linguagem que evidenciasse melhor o céu e um andar mais íntimo com Deus  e essa é a razão pela qual escrevi como escrevi. Não é verdade que precisamos de um padrão mais elevado de santidade pessoal nestes nossos dias? Onde está a nossa paciência? Onde está o nosso zelo? Onde está o nosso amor? Onde estão as nossas boas obras? Onde está a força da religião cristã a ponto de ser percebida, conforme se via nos tempos de outrora?

Onde está aquele inequívoco tom capaz de abalar o mundo que costumava distinguir os santos da antiguidade? Verdadeiramente, a nossa prata transformou-se em escória, o nosso vinho foi misturado com água, e o nosso sal tem pouco sabor. Todos estamos mais do que meio-sonolentos. A noite vai adiantada e o dia já se aproxima. Despertemos; não continuemos a dormir. Abramos os nossos olhos mais atentamente do que temos feito até agora, "...desembaraçando-nos de todo peso, e do pecado que tenazmente nos assedia..!' "Tendo, pois, ó amados, tais promessas, purifiquemo-nos de toda impureza, tanto da carne como do espírito, aperfeiçoando a nossa santidade no temor de Deus" (Hb. 12:1 e II Co. 7:1). Indagou Owen: "Morreu Cristo, e sobreviverá o pecado? Foi Ele crucificado no mundo e o nosso afeto pelo mundo continuará vivo e intenso? Oh, onde está o espírito daquele que, mediante a cruz de Cristo, foi crucificado para o mundo, e o mundo para ele?!"

FONTE: www.josemarbessa.com

Você é santo? - J. C. Ryle ( 1816-1900)

Imagem cedida por: http://www.erictyoung.com 

"Você é santo"? Escute, rogo-lhe, a pergunta que lhe estou apresentando neste dia. Você conhece alguma coisa a respeito da santi¬dade da qual venho falando?
Não estou perguntando se você frequenta regularmente os cultos de sua igreja, ou se você já foi batizado, ou se costuma participar da Ceia do Senhor, ou se você tem o nome de cristão. Estou perguntando algo muito mais profundo do que isso: Você é santo, ou não!

Não estou indagando se você aprova a santidade em outras pessoas, nem se você gosta de ler sobre as vidas de pessoas santas, ou de falar sobre as coisas santas, ou se você possui livros sobre a santidade, em sua biblioteca, nem se você deseja ser santo, e espera que venha a atingir a santidade algum dia. Estou perguntando: Você é santo hoje, ou não!

Mas, por qual motivo estou perguntando de um modo tão direto, pressionando tanto sobre a questão? Assim o faço porque as Escrituras determinam: "...a santificação, sem a qual ninguém verá o Senhor". Isso está escrito. Não é fantasia minha, está na Bíblia; não é a minha opinião particular, é a Palavra de Deus e não a palavra do homem: "...a santificação, sem a qual ninguém verá o Senhor" (Hb. 12:14).

Oh, quão perscrutadoras e selecionadoras palavras são essas! Quantos pensamentos me atravessam a mente, enquanto as escrevo! Contemplo o mundo e vejo que a maior parte da humanidade jaz na iniquidade. Contemplo os crentes professos e vejo que a vasta maioria deles nada tem do cristianismo, exceto o nome. Examino as páginas da Bíblia e ouço o Espírito afirmando: "...a santificação, sem a qual ninguém verá o Senhor".

Sem dúvida este é um texto que nos deve fazer considerar nossos caminhos e examinar nosso coração. Por certo que deveria suscitar dentro em nós solenes pensamentos e compelir-nos à oração.

Você pode alegar que se preocupa muito e pensa muito a respeito dessas coisas; mais do que alguém possa imaginar. Eu respondo: "Este não é o ponto. No inferno, as pobres almas perdidas fazem muito mais do que isso. A questão não é o que você pensa e o que você sente, mas o que você faz".

Você pode dizer que nunca se entende que todo o cristão tem, necessariamente, que ser consagrado, e que santificação, tal como a tenho descrito, é apenas para grandes santos e pessoas altamente dotadas. Respondo que: "Não posso ver desse modo nas Escrituras. Leio em 1 João 3:3 que todo o homem que tem esperança em Cristo a si mesmo se purifica". Sem a santificação ninguém verá o Senhor.

Talvez você diga: "É impossível alguém ser tão santo e ao mesmo tempo cumprir o seu dever nesta vida. Tal coisa não pode ser feita". Mas, respondo: "Você está enganado. Isso pode ser feito. Com Cristo ao nosso lado coisa alguma é impossível. Já foi feito por muitos crentes. Davi, Obadias e Daniel, bem como os servos da casa de Nero, são todos exemplos que comprovam que isso é possível".

Talvez você objete: "Se eu fosse assim tão santo, seria diferente das outras pessoas". Respondo: "Sei disso muito bem. É exatamente assim que você deveria ser. Os verdadeiros servos de Cristo sempre foram diferentes do mundo ao redor deles, uma nação separada, um povo peculiar. E assim deverá acontecer também no seu caso, se você quiser ser salvo!"

Talvez você diga: "Se as coisas tiverem de ser assim, bem poucas pessoas serão salvas". Respondo: "Sei disso. É precisamente assim que somos informados no Sermão da Montanha". O Senhor Jesus o disse, há mil novecentos e tantos anos atrás: "...estreita é a porta e apertado o caminho que conduz para a vida, e são poucos os que acertam com ela" (Mt. 7:14). Poucas pessoas serão salvas, porque poucas se dão ao trabalho de buscar a salvação. Os homens não querem negar à si mesmos os prazeres do pecado, não querem abandonar os seus próprios caminhos durante esta breve vida terrena. Antes, voltam as costas para aquela herança "incorruptível, sem mácula, imarcescível" (I Pe. 1:4). Declarou Jesus: "Contudo, não quereis vir a mim para terdes vida" (João 5:40).


Você, provavelmente, responderá: "Essas declarações são extremamente duras. O caminho é muito estreito". A minha resposta será: "Sei disso. Assim afirma o Sermão da Montanha". O Senhor Jesus ensinou isso faz mais de mil e novecentos anos. Ele sempre disse que os homens precisam tomar a sua cruz diariamente, dispondo-se até mesmo a decepar uma mão ou um pé, se quiserem ser Seus discípulos. Na religião, como em outras coisas, "não há avanço sem sofrimento". Aquilo que nada custa, nada vale.

Sem importar o que nos venha à cabeça para dizer, teremos de ser santos, se quisermos ver o Senhor. No que se reduziria o nosso cristianismo, se assim não fosse? Não devemos apenas trazer o nome de cristão, ser possuidores do conhecimento típico do cristianismo; mas também devemos mostrar o caráter cristão. Devemos ser santos na terra, se quisermos chegar a ser santos no céu. Deus foi quem o disse, e Ele não retrocederá: "...a santificação, sem a qual ninguém verá o Senhor". Observou Jenkyns: "O calendário do papa só declara santos a pessoas mortas, mas as Escrituras requerem a santidade da parte dos vivos". Disse Owen: "Que os homens não se deixem iludir: a santificação é uma qualificação indispensavelmente necessária para quem quiser estar sob a orientação do Senhor Jesus, a fim de ser conduzido à salvação. Ele só conduz ao céu àqueles a quem Ele santifica nesta terra. A Cabeça viva não admite membros mortos".

Sem dúvida não deveríamos estranhar diante daquela Escritura que diz: "Importa-vos nascer de novo" (João 3:7). Certamente que é tão claro quanto a luz do meio-dia que muitos crentes professos precisam de uma completa transformação — novos corações, novas naturezas — se algum dia tiverem de ser salvos. As coisas antigas terão de passar; eles precisam tornar-se novas criaturas. Sem importar de quem se trate, sem a santificação "ninguém verá o Senhor".

TODOS OS CRÉDITOS: www.josemarbessa.com

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