quarta-feira, 5 de setembro de 2012

BIOGRAFIA: George Vicesimus Wigram (1805 -1879)

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George Vicesimus Wigram era o vigésimo filho de Sir Robert Wigram, um rico comerciante de Londres. É disso que resulta o seu segundo nome em latim que em português quer dizer “vigésimo”. 

Ele nasceu no 1805. Enquanto ainda jovem, ingressou no exército britânico. Foi provavelmente por volta do ano de 1824 que chegou a se converter e em 1826 deixou o serviço militar, para estudar teologia no colégio “Queen’s College” em Oxford. Na sua condição de filho de um pai rico, ele teve algumas características especiais de que tomaram nota os seus colegas de estudos.

Assim ele era o único estudante que tinha como ter uma charrete fechada; por outro lado, teve o costume de esfregar um manto novo tanto tempo na parede até que tivesse aparência de usado. Também era conhecido pelo fato de possuir um coração aberto e elevadas forças intelectuais.

Na sua condição de estudante, teve contato com James Lampden Harris e Benjamin Wills Newton em Oxford, e mais tarde, no ano de 1830, também com John Nelson Darby . Mais ou menos um ano depois, George Vicesimus Wigram se separou da Igreja Anglicana e mudou-se, juntamente com B. W. Newton, para Plymouth. De sua considerável fortuna, sem mais nem menos, G. V. Wigram comprou ali uma capela, a Providence Chapel na rua Raleigh, onde então cada noite houve preleções sobre assuntos bíblicos.

Durante uma visita de John Nelson Darby, os irmãos ali começaram a partir o pão. Assim se formou ali a primeira “assembléia” na Inglaterra. Um traço bastante notável e conhecido dos crentes reunidos ali conforme os pensamentos de Deus era, que se separaram de tudo que consideraram ser mundano, seja de livros, vestimenta e móveis. Essas ofertas voluntárias foram juntadas em tal quantia que era necessário vendê-los em leilão público. O que faz esse caso de Plymouth tão impressionante é que a assembléia agia em unanimidade e também a maneira sincera e convicta em que aconteceu esse abandono do mundo.

Embora George Vicesimus Wigram passasse a maioria do tempo em Plymouth, pouco tempo depois surgiu também uma assembléia em Londres por meio dele. Naqueles anos, G. V. Wigram se dedicou principalmente a uma tarefa especial, ou seja à compilação de concordâncias bíblicas, que haviam de servir como ajuda àqueles que possuíam pouco ou nenhum conhecimento das línguas hebraica ou grega. Ele financiou esses empreendimentos de sua considerável fortuna, embora ele mesmo dissesse em grande modéstia, que “apenas passou por minhas mãos”.

No ano de 1839 foi publicada “The Englishman’s Greek Concordance of the New Testament” (“A Concordância Grega do Leitor Inglês referente ao Novo Testamento”) e em 1843 “The Englishman’s Hebrew and Chaldee Concordance of the Old Testament” (“A Concordância Hebraica e Aramaica do Leitor Inglês referente ao Antigo Testamento”). Os dois volumes, desde então, sempre têm sido republicados e foram úteis e de bênção para inúmeros estudantes das Escrituras Sagradas.

Assim essa obra de G. V. Wigram se constituiu em um serviço relevante para toda a Igreja de Deus até em nossos dias.

George Vicesimus Wigram era um fiel amigo de John Nelson Darby e seu companheiro durante muitas viagens. Na questão de Bethesda nos anos de 1845 a 1850 estava firme ao lado dele. A sua sinceridade e lealdade nunca têm sido questionadas.

Era editor da revista “The Present Testimony” (“O Testemunho Atual”) nos anos 1849 a 1873 (uma revista sucessora da primeira revista dos irmãos intitulada “The Christian Witness” — “O Testemunho Cristão”). Nela publicou diversos de seus escritos que, mais tarde, foram publicados em cinco volumes (a última edição em inglês por H. L. Heijkoop, Winschoten).

Quando por volta de 1873 o testemunho florescente das igrejas diminuiu por causa de diversas influências, ele desistiu da edição dessa revista. Sentiu que os irmãos não correspondiam mais ao chamado de Deus. Certa vez mencionou: “Nós tínhamos de reconhecer a verdade de joelhos em oração perpétua, mas hoje pode ser comprada por um preço barato”.

Já no ano de 1838 ele compilou um hinário sob o título “Hymns for the Poor of the Flock” (“Hinos para os Pobres do Rebanho”; compare Zacarias 11:7). Pelo fato de circular também outros hinários, George Vicesimus Wigram recebeu em 1856 o convite de se ocupar detalhadamente com esse assunto. Disso surgiu um novo hinário sob o título “A Few Hymns and Some Spiritual Songs Selected 1856” (“Alguns Hinos e Cânticos Espirituais Selecionados 1856”). Esse, então, foi usado de forma geral até que, em 1881, sob liderança de John Nelson Darby , foi revisado e ampliado mais uma vez. De forma modificada esse hinário ainda hoje está sendo usado nos países de fala inglesa.

Alguns hinos bonitos contidos nele são de autoria de G. V. Wigram. Durante o tempo por volta de 1850, George Vicesimus Wigram visitava os grupos de crentes que haviam surgido em decorrência do trabalho de William Darby e Julius Anton von Poseck na Renânia (região na Alemanha) em diversas localidades (Benrath, Hilden, Haan, Ohligs, Rheydt e Kettwig).

Também fazia visitas mais prolongadas nos últimos anos de sua vida na Nova Zelândia, nas ilhas do Caribe etc. Por todos os lados o seu ministério foi bastante apreciado. Sempre era seu alvo servir somente a Cristo. No dia 1 dejaneiro de 1879 o Senhor o tomou para consigo.


FONTE: www.cristaosnahistoria.blogspot.com.br

Os puritanos e a pregação da palavra de Deus


Imagem cedida por: http://grupodeoracaosaomiguel.blogspot.com.br


É típico se ver nas igrejas cristãs um zelo especial pela Palavra de Deus. Nas denominações evangélicas este cuidado também é notório. Embora um tanto desgastada pelos péssimos exemplos da atualidade a pregação da Palavra sempre ocupou um lugar de destaque no culto e na vida cristã, seja do leigo ou do ministro. Ao percorrer a história do cristianismo salta aos olhos os gloriosos exemplos deste amor pelas Letras Sagradas. Os puritanos podem ser tomados como um desses exemplos e aqui estarão expostos os seus traços gerais; servindo-se como guia a exposição de James Packer.
Ainda que um lapso de tempo de quatrocentos anos nos separe dos puritanos, hoje se reafirma a  necessidade de empenho, sinceridade e boa disposição na pregação. Os sermões puritanos eram marcados pela centralidade na Bíblia e vivacidade, tendo em vista a vida diária. “A retórica dos puritanos era serva do biblicismo deles” (p. 300).

A tradição puritana quanto à pregação foi criada em Cambridge na passagem do século XVI para o século XVII, pelos líderes do primeiro grande movimento evangélico naquela universidade (William Perkins, Paul Baynes, Richard Sibbes, John Cotton, John Preston, Thomas Goodwin e outros). O puritanismo que tinham em comum não era um programa de reformas eclesiáticas (p. 300).
No final do século XVI a estrutura dos sermões já tinha sido simplificada, nasceu então a divisão do sermão em três pontos. Lloyd-Jones foi o principal responsável pela entrada da tradição puritana da pregação no séc. XX (p. 301).

Ao traçar o perfil dos puritanos, Packer ressalta as atitudes e maneiras como a pregação deve ser apresentada, tal como aparece no Westminster Directory for the public Worship of God.
Ao servo de Deus cabe realizar todo o seu ministério (p. 298):
1-     Com empenho, não fazendo a obra do Senhor com negligência.

2-     De forma clara, para que os mais simples possam entendê-lo, equilibrado no uso das palavras.

3-     Fielmente visando a honra de Cristo, a conversão, a edificação, a salvação de pessoas e não sua própria glória e vantagem; nada ocultando que possa promover esses objetivos.

4-     Sabiamente, formulando bem todas as suas doutrinas, exortações e, sobretudo, suas reprimendas.

5-   Com seriedade, como convém à Palavra de Deus, evitando gestos, tons de voz e expressões que ocasionem as corrupções humanas que levem as pessoas a desprezarem a ele mesmo e o seu ministério.

6-     Com amor, para que as pessoas vejam que tudo se deriva de seu zelo piedoso, de seu profundo desejo em lhes fazer o bem.
7-    Como alguém que foi ensinado por Deus e que está persuadido, em seu próprio coração, de que tudo quanto ensina é a verdade de Cristo.

Quatro axiomas sublinham todo o pensamento puritano sobre a pregação:

1-     Primazia do intelecto: “Toda graça entra por meio do entendimento”. O único caminho para o coração, que o pregador está autorizado a tomar, passa pela cabeça das pessoas.

2-     Crença na suprema importância da pregação. O sermão era o clímax litúrgico da adoração pública. O sermão não vem naturalmente, o estudo intenso deve ser constante e toda a vida semanal do pregador deve ser planejada tendo em vista o tempo necessário para a preparação do sermão.

3-     Crença no poder que as Escrituras possuem para dar vida. Confiança no poder vivificador e nutriente da mensagem bíblica. A Bíblia é a Palavra de Deus, portanto tem poder para tocar as pessoas no âmago de suas almas. A tarefa do pregador é apascentar o rebanho com o conteúdo da Bíblia. A pregação era caracterizada pela reverência pela verdade revelada e a fé em sua total suficiência ante às necessidades humanas. Por esses motivos o trabalho pastoral era definido em termos de pregação.

4-     Crença na soberania do Espírito Santo. Insistiam que a eficácia final da pregação está fora do alcance do pregador (p. 304).

Os tipos de pregação que derivaram dessas convicções (p. 305...):

1-     A pregação dos puritanos era expositiva em seu método. Explicavam o texto em seu contexto; extraíam uma ou mais observações doutrinárias; ampliavam, ilustravam e confirmavam, com base em outros trechos bíblicos, as verdades dali derivadas.

2-     A pregação dos puritanos era doutrinária em seu conteúdo. “A tarefa do pregador consiste em pregar a fé, e não promover entretenimento para os incrédulos – em outras palavras, alimentar as ovelhas e não divertir os bodes” (p. 306).

3-     A pregação dos puritanos era ordeira em seu arranjo. Davam importância à análise e um bom sermão tinha que ser o mais claro e lógico quanto possível. Eles ensinavam às sua congregações a memorizarem os sermões a fim de meditarem neles durante a semana. Um sermão que fosse difícil de ser lembrado, por essa mesma razão, era tido como um mau sermão (p. 306).

4-     A pregação dos puritanos era profunda em seu conteúdo e popular em seu estilo. Toda a prédica que exalta o pregador não edifica e é uma pregação pecaminosa. Usavam uma linguagem (o inglês) simples, direta e familiar.

5-     A pregação dos puritanos era cristocêntrica em sua orientação. “A chamada do pregador consiste em anunciar todo o conselho de Deus; e a cruz é o centro desse conselho” (p. 307). Três metas: humilhar o pecador, exaltar o Salvador e promover a santidade.

6-     A pregação dos puritanos era experimental em seus interesses. A pregação era declaradamente prática: conduzir as pessoas ao conhecimento de Deus, a experimentá-lo. A regra fora formulada por David Dickson, que recomendou a um jovem pastor que estudasse dois livros ao mesmo tempo: a Bíblia e o seu próprio coração. “Os puritanos viam como uma questão de consciência provarem, por si mesmos, o poder salvífico do evangelho que recomendavam a outros” (p. 308). Demonstravam terem experimentado aquilo que estavam falando.

7-     A pregação dos puritanos era transpassante em suas aplicações. A Palavra de Deus deve ser aplicada aos diferentes tipos de pessoas, dado que as igrejas são formadas por um misto de todo tipo de gente. Baseado nisso o Westminster Directory for Publick Worship of God especifica seis tipos de aplicações: 1) instrução ou informação quanto ao conhecimento de alguma ... conseqüência de sua doutrina; 2) refutação de doutrinas falsas; 3) exortação quanto aos deveres; 4)dissuasão, repreensão e admoestação pública; 5) consolo adequado; 6) auto-exame (p. 309).

8-     A pregação dos puritanos era poderosa em sua maneira de ser. Eles buscavam a unção no púlpito e pregavam como se fosse a última vez, “como se a morte estivesse em suas costas” (p. 310). A técnica é uma necessidade na pregação (exposição e aplicação), mas é necessário, principalmente, a unção do Espírito Santo.
   
    EXTRAÍDO DE: Leituras em PACKER, J. I. A pregação dos puritanos. Cap. 17, in Entre os gigantes de Deus: Uma visão puritana da vida cristã. São José dos Campos, SP: 1996.

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