terça-feira, 8 de janeiro de 2013

História das perseguições nos países baixos (Holanda) - Capítulo 11


Image cedida por: http://pt.wikipedia.org/

Tendo-se estendido com êxito a luz do Evangelho pelos Países Baixos, o Papa instigou o imperador a iniciar uma perseguição contra os protestantes; muitos caíram então mártires sob a malícia supersticiosa e o bíblico fanatismo, entre os que os mais notáveis foram os seguintes:

Wendelinuta, uma piedosa viúva protestante, foi apreendida por causa de sua religião, e vários monges tentaram, sem êxito, que se desdissesse. Como não podiam prevalecer, uma dama católico-romana conhecida dela desejou ser admitida na masmorra onde estava prisioneira, prometendo esforçar-se por induzi-la a abjurar da religião reformada. Quando foi admitida na cela, fez o possível para executar a tarefa que havia empreendido;mas ao ver inúteis seus esforços, disse: "Querida Wendelinuta, se não abraças nossa fé, mantém pelo menos em segredo as coisas que tu professas, e trata de prolongar tua vida". 

Ao qual a viva respondeu: "Senhora, você não sabe o que diz; porque com o coração cremos para justiça, mas com a boca se faz confissão para a salvação". Como recusara rotundamente desdizer-se, seus bens foram confiscados, e ela foi condenada à fogueira. No lugar da execução, um monge lhe apresentou uma cruz, e a convidou a beijá-la e a adorar a Deus. a isto ela respondeu: "Não adoro eu nenhum Deus de madeira, senão o Deus eterno que está no céu". Então foi executada, mas por mediação da dama católico-romana, foi-lhe concedido o favor de ser estrangulada antes de pôr-se fog na lenha.
Dois clérigos protestantes foram queimados em Colen; um comerciante de Amberes, chamado Nicolas, foi amarrado num saco, lançado num rio e afogado. E Pistorius, um erudito estudante, foi levado ao mercado de um povo holandês numa camisa de força, e ali lançado numa fogueira.

Dezesseis protestantes foram sentenciados à decapitação e sem ordenou que um ministro protestante assistisse à execução. Este homem executou a função de seu ofício com grande propriedade, exortando-os ao arrependimento, e lhes deu consolação nas misericórdias de seu Redentor. Tão logo como os dezesseis foram decapitados, o magistrado gritou ao carrasco: "Falta ainda que assestes um golpe, verdugo; deves decapitar o ministro; nunca poderá morrer em melhor momento que este, com tão bons preceitos em sua boca, e uns exemplos tão louváveis diante dele". Foi então decapitado, ainda que muitos dos próprios católico-romanos reprovaram então este gesto de crueldade pérfida e desnecessária.

Jorge Scherter, ministro de Salzburgo, foi apreendido e encerrado em prisão por instruir sua greoi no conhecimento do Evangelho. Enquanto estava em seu encerro, escreveu uma confissão de sua fé. Pouco depois disso foi condenado, primeiro a ser decapitado, e depois a ser queimado. De caminho ao lugar da execução disse aos espectadores: "Para que saibais que morro como cristão, dar-vos-ei um sinal". E isto se verificou de uma forma mais que singular, porque depois que lhe for cortada a cabeça, o corpo jazeu durante um certo tempo com o ventre para abaixo, porém girou-se repentinamente sobre as costas, com o pé direito cruzado sobre o esquerdo, e também o braço direito sobre o esquerdo; e assim permaneceu até ser lançado no fogo.

Em Louviana, um erudito homem chamado Percinal foi assassinado em prisão; Justus Insparg foi decapitado por ter em seu poder os sermões de Lutero.

Giles Tilleman, um faqueiro de Bruxelas, era um homem de grande humanidade e piedade. Foi apreendido entre outras coisas por ser protestante, e os monges se esforçaram muito por persuadi-lo a desdizer-se. Teve uma vez, acidentalmente, uma boa oportunidade para fugir, e ao perguntar-se-lhe por que não a havia aproveitado, disse: "Não queria fazer tanto dano a meus carcereiros como lhes teria acontecido, caso tiverem de responder acerca de minha ausência, se eu escapasse". Quando foi sentenciado à fogueira, deu fervorosamente graças a Deus por dar-lhe a oportunidade, por meio do martírio, de glorificar Seu nome. Vendo no lugar da execução uma grande quantidade de lenha, pediu que a maior parte da mesma fosse entregue aos pobres, dizendo: "Para queimar-me a mim será suficiente com um pouco". O carrasco se ofereceu para estrangulá-lo antes de acender o fogo, mas ele não quis consentir, dizendo-lhe que desafiaria as chamas, e desde logo expirou com tal compostura em meio delas que apenas se parecia sensível a seus efeitos.

Nos anos de 1543 e 1544, a perseguição se abateu sobre Flandes da forma mais violenta e cruel. Alguns foram condenados à prisão perpétua, outros desterro perpétuo; porém a maioria eram mortos, bem enforcados, bem afogados, emparedados, queimados, mediante o potro, ou enterrados vivos.

João de Boscane, um zeloso portanto, foi apreendido por sua fé na cidade de Amberes. Em seu juízo professou firmemente ser da religião reformada, o qual o levou a sua imediata condena. Mas o magistrado temia executá-lo publicamente, porque era popular devido a sua grande generosidade e quase universalmente querido por sua vida pacífica e piedade exemplar. Decidindo-se uma execução privada, se deu ordem de executá-lo na prisão. Por isso, o verdugo o colocou numa grande banheira; porém debatendo-se Boscane, e tirando a cabeça fora da água, o carrasco o apunhalou várias vezes com uma adaga, até expirar.

João de Buisons, outro protestante, foi apreendido secretamente, na mesma época, em Amberes, e executado privadamente. Sendo grande o número de protestantes naquela cidade, e muito respeitado o preso, os magistrados temiam uma insurreição, e por esta razão ordenaram sua decapitação na prisão.

No ano do Senhor de 1568, três pessoas foram apreendidas em Amberes, chamadas Scoblant, Hues y Coomans. Durante seu encerro se comportaram com grande fortaleza e ânimo, confessando que a mão de Deus se manifestava no que lhes havia acontecido, e inclinando-se ante o trono de Sua Providência. Numa epístola a alguns dignitários protestantes, se expressaram com as seguintes palavras: "Por quanto é a vontade do Onipotente que soframos por Seu nome e que sejamos perseguidos por causa de Seu Evangelho, nos submetemos pacientemente, e estamos gozosos por esta oportunidade; embora a carne se rebele contra o espírito, e ouça o conselho da velha serpente, contudo as verdades do Evangelho impedirão que seja aceito seu conselho, e Cristo esmagará a cabeça da serpente. Não estamos sem consolo no encerro, porque temos fé; não tememos a aflição, porque temos esperança; e perdoamos a nossos inimigos, porque temos caridade. Não tenhais temor por nós, estamos felizes no encerro graças às promessas de Deus, nos gloriamos em nossas correntes, e exultamos por sermos considerados dignos de sofrer por causa de Cristo. Não desejamos ser libertados, senão abençoados com fortaleza; não pedimos liberdade, senão o poder da perseverança; e não desejamos mudança alguma em nossa condição, senão aquela que coloque uma coroa de martírio sobre nossas cabeças".

Scoblant foi julgado primeiro. Ao persistir na profissão de sua fé, recebeu a sentença de morte. Ao vltar à prisão, pediu seriamente a seu carcereiro que não permitisse que o visitasse nenhum frade. Disse assim: "Nenhum bem podem fazer-me, porém podem perturbar-me muito. Espero que minha salvação já esteja selada no céu, e que o sangue de Cristo, no qual deposito minha firme confiança, tenha-me lavado de minhas iniqüidades. Vou agora lançar de mim estas roupas de barro para ser revestido de uma veste de glória eterna, por cujo celeste resplendor serei liberado de todos os erros. Espero ser o último mártir da tirania papal; que a Igreja de Cristo tenha repouso aqui, como seus servos o terão no além". No dia de sua execução se despediu pateticamente ed seus companheiros de prisão. Amarrado na estaca orou fervorosamente a oração do Senhor, e cantou o Salmo 40; depois encomendou sua alma a Deus, e foi queimado vivo.

Pouco depois Hues morreu em prisão, e por esta circunstância Coomans escreveu a seus amigos: "Estou agora privado de meus amigos e companheiros; Scoblant sofreu o martírio, e Hues morreu pela visitação do Senhor; todavia, não estou sozinho: tenho comigo o Deus de Abraão, de Isaque e de Jacó; Ele é o meu consolo, e será meu galardão. Orai a Deus que me fortaleça até o fim, porquanto espero a cada momento ser liberado desta tenda de barro".
Em seu juízo confessou árvore do conhecimento do bem e do mal ser da religião reformada, respondeu com fortaleza varonil a cada uma das acusações que lhe formulavam, e demonstrou com o Evangelho o Escriturário de suas respostas. O juiz disse que as únicas alternativas eram a retratação ou a morte, e terminou dizendo: "Morrerás pela fé que professas?" A isto Coomans replicou: "Não só estou disposto a morrer, senão também a sofrer as torturas mais cruéis por ela; depois, minha alma receberá sua confirmação de parte do próprio Deus, em meio da glória eterna". Condenado, se dirigiu cheio de ânimo ao lugar da execução, e morreu com a mais corajosa fortaleza e resignação cristã.

Guilherme de Nassau caiu vítima da perfídia, assassinado aos cinqüenta e um anos de idade por Baltasar Gerard, natural do Franco Condado, na província da Borgonha. Este assassino, com a esperança de uma recompensa aqui e no além por matar um inimigo do rei da Espanha e da religião católica, empreendeu a ação de matar o Príncipe de Orange. Procurando-se armas de fogo, o vigiou enquanto passavas através do grande vestíbulo de seu palácio para a comida, e lhe pediu um passaporte. A princesa de Orange, vendo que o assassino falava com voz oca e confusa, perguntou quem era, dizendo que não gostava de seu rosto. O príncipe respondeu que se tratava de alguém que pedia um passaporte, que lhe seria prontamente dado.
Nada mais aconteceu antes da comida, porém ao voltar o príncipe e a princesa pelo mesmo vestíbulo, acabada a comida, o assassino, oculto tudo quanto podia atrás de um dos pilares, disparou contra o príncipe, entrando as balas pelo lado esquerdo e penetrando no direito, ferindo em sua trajetória o estômago e órgãos vitais. Ao receber as feridas, o príncipe somente disse: "Senhor, tem misericórdia de minha alma, e desta pobre gente", e depois expirou imediatamente.

As lamentações pela morte do Príncipe de Orange foram gerais por todas as Províncias Unidas, e o assassino, que foi apreendido de imediato, recebeu a sentença de ser morto da forma mais exemplar, mas tal era seu entusiasmo, ou contra-senso, que quando lhe desgarravam as carnes com pinças candentes, dizia friamente: "Se estiver livre, o faria de novo".

O funeral do Príncipe de Orange foi o maior jamais visto nos Países Baixos, e talvez a dor pela sua morte a mais sincera, porque deixou trás e sim o caráter que honradamente merecia, o de pai de seu povo.

Para concluir, multidões foram assassinadas em diferentes partes de Flandes; na cidade de Valence, em particular, cinqüenta e sete dos principais habitantes foram brutalmente mortos num mesmo dia por recusarem abraçar a superstição romanista; e grandes números foram deixados enlanguescer na prisão até morrer pelo insano das masmorras.

FONTE:  Extraído do "livro dos mártires" de John Fox (todos os créditos a editora CPAD) 

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