sexta-feira, 26 de julho de 2013

Os Perigos da Segurança Carnal - John Bunyan

Extraído do site: www.nndb.com
 Na cidade de Alma do Homem, vivia um homem cujo nome era Segurança Carnal. Este homem, apesar de toda a misericórdia concedida pelo Príncipe, colocou Alma do Homem em terrível servidão.

Quando Diabo tomou posse da cidade de Alma do Homem, ele trouxe consigo um grande número de seus descendentes. Entre estes se achava o Sr. Presunção. Diabo, percebendo que Presunção era muito ativo e ousado, enviou-o em muitas missões perigosíssimas. Presunção se mostrou bem-sucedido em suas realizações e agradou o seu senhor, mais do que muitos que o serviam. Reconhecendo que Presunção era conveniente aos seus propósitos, Diabo o tornou o segundo no comando, sob as ordens do grande lorde Vontade-Própria.

Naqueles dias, o lorde Vontade-Própria agradou-se de Presunção e de suas realizações, de modo que lhe deu sua filha, Srta. Não-Teme-Nada, como esposa. Ora, Não-Teme-Nada e Presunção tiveram um filho que chamaram Segurança Carnal. Houve muitos casamentos mistos em Alma do Homem, e, em alguns casos, dificilmente se podia determinar quem era natural da cidade e quem não o era. Segurança Carnal era parente do lorde Vontade-Própria, por parte de mãe, embora seu pai fosse descendente do Diabo, por natureza.

Segurança Carnal nasceu com os traços de seu pai e sua mãe. Ele era presunçoso, destemido e bastante ativo. De um modo ou de outro, qualquer idéia nova, filosofia estranha ou entretenimento incomum na cidade era instigado por ele. Nas contendas, ele rejeitava os que eram considerados fracos e sempre ficava do lado da facção mais forte.

Quando Shadai e Emanuel guerrearam contra Alma do Homem, Segurança Carnal estava na cidade. Ele se mostrou bastante ativo entre as pessoas, encorajando-as em sua rebelião e endurecendo-as em sua resistência contra as forças do Rei. Quando a cidade de Alma do Homem foi conquistada pelo Príncipe glorioso, Segurança Carnal viu Diabo ser expulso e forçado a deixar o castelo, com grande vergonha. Segurança Carnal percebeu que a cidade estava cheia dos capitães e das armas de guerra de Emanuel. Por essa razão, mostrando-se esperto, ele mudou de atitude. E, da mesma maneira como havia servido o Diabo, Segurança Carnal se comprometeu a apoiar o Príncipe.

Depois de obter algumas informações sobre os planos de Emanuel, Segurança Carnal aventurou-se na companhia dos homens da cidade e tentou conversar com eles. Segurança Carnal sabia que o poder e a força de Alma do Homem era grande e que seria agradável aos moradores se elogiasse o poder e a glória deles. Por conseguinte, ele começou a falar exageradamente sobre o poder e o vigor dos lugares seguros e das fortalezas de Alma do Homem, dizendo que a cidade era impenetrável. Segurança Carnal exaltou os capitães e suas armas, assegurando aos moradores que o Príncipe tornaria Alma do Homem feliz para sempre. Quando Segurança Carnal viu que algumas pessoas se deleitaram e foram conquistadas por seu discurso, ele estabeleceu como seu objetivo o percorrer todas as ruas e casas, a fim de convencer os moradores de sua segurança. Em breve, eles se tornaram tão carnalmente seguros como o era Segurança Carnal. Assim, motivados pela conversa, os moradores começaram a festejar e a se divertir.

O prefeito, Sr. Entendimento, o lorde Vontade-Própria e o Sr. Conhecimento também foram conquistados pelas palavras deste homem gentil e bajulador. Eles esqueceram que o seu Príncipe os advertira a serem cuidadosos e não se deixarem enganar por qualquer artifício diabólico. O Príncipe lhes dissera que a segurança agora florescente na cidade não se devia às suas fortalezas, e sim ao seu desejo de que Emanuel habitasse no castelo da cidade. A verdadeira doutrina de Emanuel dizia que Alma do Homem deveria ter o cuidado de não esquecer o amor do Príncipe e o amor de seu Pai pelos moradores. Eles também deveriam se comportar de um modo que os preservaria no amor dEle.

Tornarem-se enfatuados por causa de um habitante que era descendente do Diabo, especialmente alguém como Segurança Carnal, constituía um erro gravíssimo para eles. Deviam ter escutado, temido e amado o seu Príncipe. Deviam ter apedrejado até à morte este criador de desordenscarnal e andado nos caminhos do seu Príncipe. A paz deles teria sido como um rio, se a sua justiça tivesse sido como as ondas do mar.

De sua residência, no castelo, Emanuel observou o que se passava na cidade. Compreendeu que, por meio da astúcia do Sr. Segurança Carnal, o coração dos homens de Alma do Homem havia se tornado frio em seu amor para com Ele. Com grande tristeza, ele se dirigiu ao Secretário de seu Pai: “Oh! Se meu povo tivesse me escutado e Alma do Homem houvesse andado em meus caminhos! Eu os teria alimentado com o mais fino trigo e sustentado com o mel que brota da rocha”.

Então, ele disse em seu coração: “Retornarei à corte de meu Pai, até que o povo de Alma do Homem considere e reconheça a sua ofensa”.

O coração de Emanuel estava ferido, porque eles não o visitavam mais em seu palácio real, como o faziam antes. Na realidade, os moradores de Alma do Homem nem mesmo percebiam que ele não estava mais vindo para bater na porta das casas deles. O Príncipe ainda preparava festas de amor e os convidava a participar, mas desprezavam os convites dele e não queriam mais se deleitar na sua companhia. Os habitantes de Alma do Homem não procuravam os conselhos do Príncipe, nem esperavam por tais conselhos. Em vez disso, se tornaram confiantes em si mesmos, concluindo que eram fortes e invencíveis. Acreditavam que Alma do Homem era segura e estava fora do alcance de qualquer inimigo.

Emanuel percebeu que, por causa da astúcia de Segurança Carnal, a cidade de Alma do Homem não dependia mais dele ou de seu Pai. Em vez disso, confiavam nas bênçãos que haviam recebido. A princípio, ele se entristeceu por causa da condição pecaminosa dos moradores. Por isso, tentou fazê-los compreender que o caminho que agora seguiam era perigoso. O Príncipe enviou seu Nobilíssimo Secretário, para proibi-los de continuar em seu caminho. Mas, nas duas ocasiões em que ele veio, encontrou os moradores jantando na casa de Segurança Carnal. O Secretário compreendeu que não estavam dispostos a ouvi-lo argumentando a respeito da felicidade deles. Depois, ele se retirou entristecido em seu coração. Quando ele narrou ao Príncipe a indiferença do povo, Emanuel também se sentiu ofendido e entristeceu-se. Assim, ele fez planos de retornar à corte de seu Pai.

Durante o restante do tempo que permaneceu em Alma do Homem, antes de sua partida, o Príncipe dedicou-se a si mesmo, mais do que o fizera anteriormente. Se procurava a companhia dos moradores, a conversa dele não era mais tão agradável como havia sido. Quando os homens da cidade vinham à casa do Príncipe, não o encontravam tão disponível como em tempos passados. Antes, ao ouvir os passos deles, o Príncipe se apressava a encontrá-los no meio do caminho e os envolvia em seus braços. Agora, porém, eles batiam uma ou duas vezes, e parecia que o Príncipe não os ouvia.

Emanuel continuou a agir desta maneira, esperando que as pessoas de Alma do Homem reconsiderassem suas atitudes e retornassem para ele. No entanto, elas não perceberam esta sua nova maneira de comportar-se para com elas, nem se comoveram com as lembranças dos antigos favores do Príncipe.

Por conseguinte, o Príncipe se retirou deles: primeiramente, em seu palácio; depois, nos portões da cidade; e, por último, saindo de Alma do Homem. Ele se ausentaria da cidade até que os moradores reconhecessem sua ofensa e buscassem sinceramente a face dele. O Sr. Paz-de-Deus também se retirou de sua posição e, até ao presente, não cumpriu mais seus deveres em Alma do Homem.

Por esse tempo, os moradores da cidade estavam tão endurecidos em seus caminhos e tão doutrinados por Segurança Carnal, que a partida do Príncipe não lhes comoveu o coração. Na verdade, os moradores de Alma do Homem nem se lembraram do Príncipe, depois que ele partiu, e sua ausência não teve qualquer importância para eles.

FONTE: Editora Fiel & www.trovian.blogspot.com.br

A Imutabilidade de Deus - Sthepen Charnock -(1628 - 1680)


Imagem cedida por: greatchristianlibrary.blogspot.com

 As coisas mais estáveis e imutáveis que vemos são os corpos celestes, incluindo a própria terra. Eles todos são obra da mão de Deus “Desde a antiguidade fundaste a terra, e os céus são obra das tuas mãos” (Salmo 102: 25). Eles são a melhor ilustração que temos da imutabilidade de Deus. Entretanto, eles também perecerão “Eles perecerão, mas tu permanecerás; todos eles se envelhecerão como um vestido; como roupa os mudarás, e ficarão mudados” (v.12). Deus, que os criou, irá transformá-los. Eles não serão aniquilados, mas refinados, com melhorias na qualidade daquilo que vemos agora. Que pena daquela alma que vive somente para as coisas que perecem! Coisas perecíveis não podem sustentar nossas almas.

Deus é o mesmo “Porém tu és o mesmo, e os teus anos nunca terão fim” (v.27). Ele nunca muda. Sua essência, natureza, e perfeições, não podem ser alteradas. Imutabilidade significa que nada pode ser acrescentado ou diminuído. O que Deus é, Ele sempre será. Eternidade e imutabilidade estão intimamente ligadas. Um implica no outro. A imutabilidade é um estado em si mesmo, e a eternidade é a medida deste estado. A imutabilidade, em si mesmo, não é necessariamente perfeição. Os anjos caídos agora são imutáveis, mas isso constitui a imperfeição e miséria deles. A imutabilidade é uma perfeição em Deus por causa da Excelência do Seu caráter. Ele é imutável em todos os Seus outros atributos. A imutabilidade lhe é tão essencial, que sem ela, Ele não poderia ser Deus.

I. EM QUE DEUS É IMUTÁVEL.

Deus é imutável em Sua essência. Deus é o primeiro ser. A Sua auto-existência prova a Sua imutabilidade. Já que Ele não deve a Sua existência a ninguém, então Ele não pode deixar de ser aquilo que Ele é. O fato dEle ser espírito, e não corpo, indica que Ele não está sujeito às mudanças físicas que um ser normal experimenta. O fato dEle ser o único independente e eterno espírito, indica que Ele é diferente dos espíritos criados, que são passíveis de mudança. Se Deus fosse sujeito a mudanças, estas poderiam ser para melhor ou para pior. Se fosse para melhor, então agora Ele não seria perfeito, e nem um Deus infinito. Se fosse para pior, Ele cessaria de ser perfeito. Em ambos os casos, as mudanças iriam corromper a Sua perfeição eterna e a Sua verdadeira deidade. Deus também não muda temporariamente para depois voltar ao seu estado original. Não há, de maneira alguma, mudança nem sombra de variação em Deus.

Deus é imutável em Seu conhecimento. Deus conhece todas as coisas assim como sempre as conheceu. Ele nunca ganhou conhecimento, pois não há nada que Ele não saiba. Seu conhecimento é perfeito e não pode mudar.

Se Deus fosse mutável, então Ele não seria digno da nossa confiança. Ele não seria um juiz competente para nada, e a verdade seria impossível de ser definida. Diferente do homem, cujo conhecimento é separado dele próprio, podendo crescer ou diminuir, o conhecimento de Deus é uma propriedade essencial do Seu ser. Ele conhece todas as coisas por um ato intuitivo. Assim como não há sucessão em Sua existência, assim também não há sucessão em Seu conhecimento. Ele compreende todas as coisas ao mesmo tempo, inclusive aquilo que chamamos de futuro.

Além disso, o conhecimento e vontade de Deus é a causa de todas as coisas, e não o efeito delas. Por isso lemos em Atos 15: 18: Conhecidas são a Deus, desde o princípio do mundo, todas as suas obras.

A distinção que fazemos de passado e futuro não implica em mudança no conhecimento de Deus. É claro que Deus vê a sucessão das coisas, mas não há sucessão em Seu conhecimento a respeito delas. Grande é o nosso Senhor, e de grande poder; o seu entendimento é infinito (Salmo 147: 5). É óbvio que estamos tratando de algo fora do nosso alcance. O conhecimento imutável de Deus é incompreensível para nós!

Deus é imutável em Sua vontade e propósito. Qualquer mudança desta categoria implicaria numa oposição aos seus planos anteriores, e O faria um inimigo de si mesmo. A verdade é esta; a vontade de Deus é essencial ao Seu ser, não sendo um componente acrescentado a este. De outro modo, Ele não seria um ser único (não composto). Há um perfeito acordo entre o conhecimento de Deus e Sua vontade. Ele conhece tudo o que existe, e o conhecimento de qualquer coisa pressupõe um ato de Sua vontade. Assim como o Seu conhecimento é um ato intuitivo, assim também Sua vontade é um ato de volição. É por isso que encontramos constantemente nas Escrituras a expressão “conselho” de Deus, e não “conselhos”, no plural. Por exemplo: O conselho do SENHOR permanece para sempre; os intentos do seu coração de geração em geração (Salmo 33: 11). Há um perfeito e imutável ato de vontade em Deus. Não há motivos para Deus mudar Sua vontade com relação a qualquer coisa. Quando o homem muda a sua vontade, isso ocorre por falta de visão, falta de poder, ou mesmo instabilidade. Mas Deus sabe todas as coisas, é Todo Poderoso, e constante. Embora Deus e Seus decretos sejam imutáveis, as coisas que Ele decreta podem mudar de acordo com Sua vontade. Esta subsequente mudança não implica em uma mudança no decreto de Deus.

“Mas a liberdade de mudar é a expressão mais alta das perfeições,” poderia alguém argumentar. “A imutabilidade infringe a liberdade de Deus.” Mas isso não parece razoável. Deus é imutavelmente livre; Ele não quer ser diferente do que é. Ser perfeitamente bom não é um sinal de imperfeição. Antes, a expressão mais alta da perfeição é ser imutável em perfeição.

Deus é imutável em termos de lugar. Ele está presente em todos os lugares. Se Ele tivesse que se mover de um lugar para o outro, então haveria uma mudança de local. Entretanto, Ele é ubíquo, ou onipresente. Esconder-se-ia alguém em esconderijos, de modo que eu não o veja? diz o SENHOR. Porventura não encho eu os céus e a terra? diz o SENHOR (Jeremias 23: 24). É inconcebível existir um lugar aonde Deus não se faça presente. Aquele cuja existência não tem causa, também não está limitado em Sua existência.

Quando nos é dito que Deus desceu à terra, ou veio até o homem, não significa que houve uma mudança de lugar da parte de Deus, mas sim uma influência especial do Seu Espírito. Trata-se mais de uma aproximação da nossa parte, do que realmente Ele se dirigindo até nós. Por exemplo, nós falamos do sol da manhã chegando ao nosso quarto, embora o sol não tenha realmente mudado de lugar, mas, na verdade, seus raios é que penetraram em nossa janela. Ou, quando os tripulantes de um barco dizem que a terra está se aproximando, mas realmente são eles que estão se aproximando da terra, através de uma corda puxada por um homem nas docas. Deus é uma rocha imutável, mas nós somos criaturas flutuantes e instáveis. Ele se move em nós para mudar as nossas mentes, emoções, e vontade. Deus permanece sempre o mesmo.

II. PROVAS DA IMUTABILIDADE DE DEUS.

O nome Jeová prova a imutabilidade de Deus. Ser o EU SOU não é somente ser eterno, mas também ser estável. O nome de Deus nunca será EU ERA ou EU SEREI.

A perfeição de Deus prova a Sua imutabilidade. Se Ele mudasse para melhor, então haveria alguma perfeição fora ou acima dEle. Se Ele mudasse para pior, então não haveria perfeição alguma nEle, e Ele seria um inimigo de Sua própria glória. O homem poderia, de alguma forma, acrescentar alguma coisa à perfeição de Deus? A resposta é: tanto quanto uma vela acesa pode acrescentar luz ao sol! A perfeição de Deus pode ser maculada pelo pecado do homem? A resposta é: tanto quanto a luz do sol pode ser obscurecida por um inimigo atirando flechas contra ele!

A simplicidade de Deus prova a Sua imutabilidade. Aquilo que é composto de várias partes ou peças é passivo de mudanças, pois uma das partes pode ser removida. Mas aquilo que é único, simples, não pode ser dividido, e, portanto, não pode ser modificado. A primeira causa de todas as coisas deve ser de natureza simples, pois se for composta, dependerá das outras partes, não podendo ser a primeira coisa. Em outras palavras, não há nada em Deus que não seja Divino.

A eternidade de Deus prova a Sua imutabilidade. Toda mudança assemelha-se à morte; a algo que deixa de ser ou existir. Mas desde que Deus é antes do tempo, então o tempo não pode afetá-Lo ou causar-Lhe qualquer tipo de mudança. Com Ele não há uma nova essência, nem conhecimento, e nem propósito. Se Deus fosse sujeito a qualquer tipo de mudança, então Ele poderia eventualmente deixar de existir, pois tudo aquilo que é mutável, é passivo de corrupção.

A infinidade e o poder de Deus provam a Sua imutabilidade. Toda mudança implica em limites e barreiras. Se algo pudesse ser acrescentado a Deus, então Ele não poderia de forma alguma ser infinito. O mesmo ocorre com o Seu poder Soberano, pois acrescentar ou tirar algo deste poder, seria impossível.

O governo de Deus sobre a criação prova a Sua imutabilidade. Todas as coisas se movem através de um poder que é estável. De outro modo, não haveria ordem nos movimentos do universo. Tudo seria um caos. Deus é o governador e o administrador de todo movimento, e por isso Ele tem que necessariamente ser imutável.

III. SOMENTE DEUS É IMUTÁVEL.

Mutabilidade é inerente a toda criatura. A nossa própria vinda à existência foi uma tremenda mudança do nada para alguma coisa. No primeiro capítulo de Hebreus, um dos argumentos para a deidade de Cristo se apoia no fato de que toda a criação está sofrendo mudanças. Eles perecerão, mas tu permanecerás; E todos eles, como roupa, envelhecerão (v. 11).

Nenhuma coisa criada pode ser absolutamente perfeita, tudo depende de Deus, admitindo lugar para uma maior perfeição. Isso se aplica tanto para criação antes de Adão, quanto depois.

Toda a forma de criação corpórea esta sujeita a mudanças. Até o sol, que permanece em seu lugar desde a criação, sendo aparentemente constante, tem mudado. Ele ficou inerte durante um período no tempo de Josué, mas moveu-se 10 graus para trás no tempo de Ezequias. O homem, a mais nobre de todas as criaturas, é sujeito a mudanças. Pense nas muitas mudanças que podem ocorrer a nós em um só dia!

Toda a criação espiritual está sujeita a mudanças. Os anjos crescem em entendimento assim como cresce a adoração que prestam a Deus. Para que agora, pela igreja, a multiforme sabedoria de Deus seja conhecida dos principados e potestades nos céus (Efésios 3: 10).

ARGUMENTOS CONTRA A IMUTABILIDADE DE DEUS DEVIDAMENTE RESPONDIDOS.

Deus não mudou quando criou o mundo? De fato, a criação envolveu grandes mudanças, mas não da parte de Deus. Deus não foi tomado por uma nova vontade quando do ato da criação, pois sua determinação em criar já existia desde a eternidade. A obra era nova, mas o decreto foi proposto nEle mesmo antes da fundação do mundo. Ele não executa nada no tempo que não tenha ordenado desde a eternidade. Imagine um construtor projetando em sua mente aquilo que irá construir, mesmo que isso demore muitos anos. No tempo em que ele iniciar a obra, isso não envolve uma mudança em sua vontade, pois ele simplesmente está realizando tudo aquilo que antes planejara. Assim é com Deus, com a exceção de que a Sua vontade é eterna como Ele mesmo.

Além disso, não houve um novo poder em Deus quando Ele começou a criar. Seu poder existe desde a eternidade, embora Ele o tivesse manifestado na obra da criação.

Deus também não adquiriu uma posição nova na criação, pois Ele já possuía as prerrogativas de Criador, mesmo não criando nada. Ele pode devidamente ser chamado de Criador desde a eternidade. O ato da criação não mudou nada em Sua essência, conhecimento, ou vontade.

Deus não mudou na encarnação do Seu Filho? Não, não houve mudança alguma na natureza do Filho ao assumir a natureza humana. Ele tomou a forma de servo, mas não perdeu a forma de Deus. Sua glória essencial não foi mudada, mas simplesmente oculta aos olhos humanos. Ambas as naturezas, divina e humana, preservaram suas propriedades particulares. É óbvio que a Sua natureza humana era sujeita a mudanças. Mas em toda a Sua vida terrestre, e até mesmo em Seus sofrimentos na cruz, Ele não deixou de ser Deus.

Deus não muda quando Ele se arrepende (como as Escrituras dizem algumas vezes)? Não no mesmo sentido em que o arrependimento se aplica ao homem. Para nós, o arrependimento é necessário por causa dos nossos erros, ou pela nossa falta de visão. Mas Deus nunca erra, e não há nenhum evento inesperado para Ele. Assim ocorre também com Sua tristeza. Deus não está sujeito as paixões como nós as conhecemos. Ele é bendito [feliz] eternamente (Romanos 9: 5). Entretanto, em sua Santa Palavra, Deus frequentemente acomoda a si mesmo à nossa frágil capacidade de entendimento. Ele condescende em falar conosco como um homem. Ele nos informa através da nossa própria linguagem, como uma mãe fala numa linguagem infantil com a sua criança. Se não fosse assim, quão pouco nós entenderíamos a respeito de Deus!

O arrependimento em Deus tem apenas a ver com o Seu trato com o homem. Quando Ele se arrependeu de haver feito o homem sobre a terra (Gênesis 6: 5), houve uma mudança na conduta de Deus na maneira de tratar com o homem, ou seja, da bondade para a severidade. Entretanto, não há mudança em Seu eterno, imutável, conselho e vontade. Tais arrependimentos estão de acordo com o que Deus decretou desde a eternidade.

Deus não muda quando Ele deixa de cumprir Suas ameaças?

As ameaças feitas por Deus são alertas enviados contra os pecadores, mostrando o Seu direito em puni-los por causa dos seus pecados. Mas estas ameaças são condicionais, pois declaram o que Deus fará se o homem continuar sendo teimoso e obstinado em seu pecado. As ameaças não declaram o que Deus tem absolutamente decretado desde a eternidade. Quando uma ameaça deixa de ser concretizada por Deus, não é devido a qualquer mudança que houve nEle, mas sim uma mudança da parte do pecador. Isso ocorre da mesma maneira com as promessas de bênçãos que Deus faz, pois estão condicionadas à perseverança em fazer o bem da parte do povo de Deus. Estas condições nem sempre são expressas, pois não tem tal necessidade. Os Ninivitas entenderam que embora Deus tivesse, através da pregação de Jonas prometido o julgamento, ainda assim Ele poderia poupá-los, caso se arrependessem. Quando Deus disse a Ezequias que se preparasse para morrer, ele orou e se humilhou. A ameaça que Deus faz quando o pecado tem atingido o seu limite mais alto, é uma parte da Sua justiça, e a sua não execução, quando o pecado é abandonado através do arrependimento, uma parte da bondade de Deus. Através destes meios Ele realiza a Sua vontade imutável.

Deus não muda quando fica irado com alguém que Ele ama, ou aplaca a Sua ira com alguém com quem estivera irado?

A resposta é a mesma da questão anterior. É a criatura que muda, não Deus. Sua santidade é constante, mas as criaturas morais mudam com relação a santidade de Deus. O sol muda enquanto endurece um determinado material e amolece a outro? Ou quando faz uma flor ficar mais perfumada e um cadáver mais podre?

Na redenção, Cristo reconciliou o homem com Deus, mas não alterou a vontade de Deus de forma alguma. Foi da vontade do Pai que o Filho viesse primeiro para redimir. Cristo não mudou a vontade do Pai, mas cumpriu. Ele disse: Eis aqui venho (No princípio do livro está escrito de mim ), Para fazer, ó Deus, a tua vontade (Hebreus 10: 7).

Deus não mudou quando a dispensação do Velho Testamento deu lugar a do Novo Testamento?

Um médico não prescreve o mesmo remédio a todos os seus pacientes. Mas ainda assim a sua vontade e habilidades permanecem as mesmas. É a capacidade e a necessidade dos pacientes que varia. Mesmo assim, Deus determinou o que era preparatório e aquilo que viria a seguir. Ele não mudou ao colocar um fim ao velho testamento, mais do que mudou quando o estabeleceu. Não há mudança na vontade Divina, mas somente na sua execução.

Agora vamos considerar o que deveríamos aprender.

I. INFORMAÇÃO.

Já que somente Deus é imutável, então Cristo é Deus. As Escrituras nos fornecem um abundante testemunho da imutável natureza da Segunda Pessoa da Trindade. Por exemplo: o livro de Hebreus, capítulo 1, cita o Salmo 45, falando profeticamente de Cristo ao dizer: Ó Deus, o teu trono subsiste pelos séculos dos séculos. E esse mesmo capítulo do livro de Hebreus cita o Salmo 102, para se referir à mudança que Cristo faria na criação. Contudo, Aquele que faz a mudança permanece imutável.

Não é inútil servir a Deus. Como poderíamos adorar um Deus que muda de cor como um camaleão? Nada seria definitivo com Ele. Amanhã Ele poderia se tornar um Deus injusto. Ficaríamos tentando adivinhar quem Ele realmente é, ou se aquilo que nos revelou de si mesmo continua valendo. Como poderíamos orar a um Deus tão imprevisível? Quando oramos nós reconhecemos que dependemos dEle, mas não poderia ser assim com um Deus sujeito a mudanças. Lembre-se, nós não oramos a fim de mudá-Lo, mas para pedir que Ele nos dê aquilo que já tem proposto para nós.

A humanidade é tremendamente diferente de Deus. O homem teria muitos motivos para se humilhar totalmente mesmo antes da queda, e muito mais depois dela! A única coisa imutável em nós, é o fato de sermos sujeitos a mudanças. Somos instáveis em nosso conhecimento, nos opomos à verdade, e somos naturalmente levados em roda por todo vento de doutrina. Somos instáveis em nossas afeições e vontade, e assim como Israel, coxeamos entre dois caminhos. Até mesmo os Cristãos são inconstantes. Como Pedro, nós juramos lealdade, e depois a negamos. Somos instáveis em nossas ações, assim como Nabucodonosor, que louvou o Deus de Daniel, mas logo depois construiu um imenso ídolo. Até o apóstolo Paulo tinha razões para se lamentar, pois disse: quando quero fazer o bem, o mal está comigo (Romanos 7: 21).

O ímpio deveria prestar atenção. Deus não mudará a Sua natureza e a Sua Lei a fim de que os pecadores permaneçam em seus próprios pecados. Ele nunca aprovará o pecado. A paz com este imutável Deus requer mudanças da parte dos pecadores, abandonando seus pecados.

II. CONFORTO.

Se há um momento para se crer em Deus, então este momento é agora. Deus está tão pronto, como sempre esteve, para receber a qualquer um que venha a Ele. Ele é tão digno agora da nossa confiança, como sempre o foi. O Seu pacto de graça permanece inalterável. Ele não diz: e eu serei o seu Deus se eles forem o meu povo, mas antes, e eu serei o seu Deus e eles serão o meu povo (Jeremias 31: 33). Num certo sentido, Ele coloca uma condição de fé em sua aliança, embora Ele conceda essa fé no coração dos eleitos. E então Ele continua a operar poderosamente em nós a fim de que possamos ser preservados nessa fé. Ele escreve as Suas leis em nossos corações. Nós dependemos totalmente do poder da sua graça a fim de nos impedir de negá-Lo. Sua imutabilidade assegura ainda mais a nossa felicidade eterna nos céus. Nós receberemos um reino, que a semelhança do seu Rei, não pode ser abalado (Hebreus 12: 28).

III. EXORTAÇÃO.

Não devemos nos conformar com este mundo. Ele está sempre mudando. Tudo está sujeito a decadência. Ló escolheu a Campina fértil do Jordão, que cedo se transformou em enxofre. Todos naturalmente desejamos as coisas estáveis e seguras, mas nunca as encontraremos aqui na terra. Não desperdice muito tempo pensando nas coisas temporais. Que tolice é trocar um Deus imutável por um mundo caído e sujeito a tantas mudanças! Não coloque a sua confiança e nem a sua alegria nas coisas temporais. Riquezas, honra, e até mesmo o conhecimento, podem rapidamente desaparecer. Todos os benefícios temporais de Deus são revogáveis. É muito melhor nos regozijarmos no próprio Benfeitor, em quem não há mudanças nem sombra de variação! Qualquer outra fonte de prazer e alegria é passageira. Devemos colocar Deus acima de tudo.

Sejamos pacientes em todas as providências de Deus. A retidão da nossa vontade consiste na nossa conformidade com a vontade de Deus. O descontentamento é uma forma de contender com Ele. Ele é imutavelmente bom para nós, mesmo quando nos corrige. Se Deus é por nós, nada poderá ser contra nós, pois não há nada que se compare a Ele. Quanto mais clara a Sua vontade nos é revelada, mais ímpia é a nossa luta contra ela. Que arrogância da nossa parte querer que Deus mude os Seus propósitos e natureza para que não venhamos a sofrer nenhuma mudança!

Vamos imitar a perfeição de Deus nos esforçando para sermos imutáveis em santidade. Portanto, meus amados irmãos, sede firmes e constantes (I Coríntios 15: 58). Retenhamos firmes a confissão da nossa esperança; porque fiel é o que prometeu (Hebreus 10: 23). Deus é constante em Suas promessas, e, portanto, deveríamos ser constantes em nossa obediência. Deus tem prazer em que Seu povo se assemelhe a Ele em tudo o que for possível. Para sermos mais semelhantes a Ele, temos que nos aproximar mais dEle.

Autor: Stephen Charnock 
Compilado para o seculo 21: Daniel A. Chamberlin
Tradução: Eduardo Cadete 2011 
Fonte: Palavra Prudente

FONTE: www.trovian.blogspot.com.br

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